quarta-feira, 2 de março de 2011
Solidão a dois
Enfim, estávamos juntos, porém sozinhos, os dois, no quarto feito estranhos no ninho. Um olhando o semblante apreensivo do outro, e pensando como nos olhávamos em outros carnavais, de camisa suada, de pele transpirando e os beijos sedentos, quentes. E agora? Agora resta um frio quase nos matando de hipotermia. A garganta seca e o sorriso sem graça de quem ta se olhando pela primeira vez. Talvez não aquela primeira vez empolgante, mas estavámos tendo nossa primeira noite despidos de nossa moral, a roupa já tornava-se desnecessária aquela altura da madrugada. Nossos corpos já nem sabiam mais disfarçar o desejo. O olhar penetrava e dizia tudo o que mil palavras jamais diriam. Após meses de conversas retóricas, nosso reencontro se deu de forma bem clichê, em algum bar, em algum canto da cidade que até passou despercebido. Eu, como quem desvenda mistérios da noite, desvendei em um minuto o que aquele corpo queria. Apesar de ainda ter muito o que falar e muito o que ouvir, parece que todas as palavras fugiram, ficou apenas a boca salivando, no último gole de cerveja, no ultimo palito de batata frita, nossa mesa parecia estar mais próxima uma da outra, as amigas sumiram pretensiosamente, ele como de costume estava sozinho á viajar cantando em tom vazio alguma música de Bob Dylan. Um "olá" bem malicioso saiu da minha boca, uma saudação aveludada e cheia de terceiras intenções, quando ele percebeu que a conversa demoraria mais que o normal puxou uma cadeira para perto de si e quase que em tom vocativo pediu que eu sentasse, mesmo se o convite não tivesse sido feito, eu sentaria, mesmo que fosse pra irritar. Sentei e conversamos sobre as coisas costumeiras. Faculdade, saídas, problemas, des-emprego, Dilma, homofobia, ácidez coletiva, amigos frustrados e toda aquela lorota de quem quer disfarçar a surdez do inicio do papo. Enfim, o convite pra ir a algum lugar surgiu quase que concomitantemente, as duas bocas se abriram ao mesmo tempo. Um lugar chamado tentação foi o primeiro a ser pensado. Estavámos lá, ele, eu e tentação, cada um despidos de roupa e moral, nus e à prova de qualquer falsidade, toda repressão se esvaiu. O alcool nos retirou qualquer pudor que relembrasse nosso passado. A paciência esgotou e voei em seus braços.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Tão familiar quanto a cerveja do bar.
ResponderExcluirEsse filme, desde o enredo até a trilha, pode apostar, eu já vivi de côr em tempo salteado.
Os personagens, principais e figurantes, podem ser encontrados por essas mesmas esquinas destes arredores universitários. Nostalgia pura!
(Uma vez da UEMA, sempre dela...)
"How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone"