quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Casa de tantas mulheres

Tinha  casa de madeira, de alvenaria,  de palha, sem casa, desquitada, viúva, casada, amante, solteira,de todas as idades, na faixa dos 80, na faixa das 40, na faixa dos 20, na faixa dos 10, na faixa dos 5. Todas mulheres. Todas das mais diversas personalidades, menina faceira, "mariazinha e zefinha saló", cajazeiras, introvertidas, conservadora, cristã superticiosa. Tinha cabelos grisalhos, ruivas, desbotado, amarelo, preto.Era uma verdadeira concentração de estrogênio, que exalava por toda a casa, os ciclos se cruzavam e a tpm também. Era icônico ver todas reunidas falando mal dos homens da família, e das mulheres que não se enturmavam, ou dos antigos vizinhos. Fui criada numa casa cheia de pequenos cômodos, que lembravam um absorvente gigante, calorento, úmido, absorvendo suor, sangue e lágrimas. Lá em casa nunca teve essa de que é o homem que bota moral, a mulherada arrasava em ser Pinochet também, em ser firme, em engolir o choro e arregaçar as mangas, em trabalhar, costurar, pintar, escrever, desenhar e tantas outras atividades que me fogem a memória. Tinha a merenda, o lanche, o café, a abóbora com arroz, arroz com manga, feijão e farinha, cuscuz, cozidão com batata, Não dava nem tempo de se sentir sozinha. Tinha Amélia, Maria Bonita,  zangada, barraqueira, humilde, arrogante. Um comboio de mulheres.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Texto antigo ( de 2011 por aí) Você decide o final: ligue 0800

Naquele dia em que faria 1 ano e dois meses que eu me separei, ou seria emancipei? Cansada de tanta surra, física, moral e ética, do marido, da sociedade, das "amigas".Então decidi que minha reclusão auto-emanada naquele dia iria acabar.Comecei a bisbilhotar em minha mente tudo o que eu queria fazer e nunca tive coragem, nesse dia, o falso pudor social me denominaria de muitos termos perjorativos, mas eu, me chamaria apenas de mulher, eu queria me sentir assim.Comecei procurando em meu guarda-roupa , uma lingerie bem sensual e exótica, que seria mais fácil de retirar do que colocar.A calça mais justa e sexy que eu pudesse usar e respirar ao mesmo tempo.Um tomara-que-caia vermelho, contrastando com minha pele branca, cabelos naturais.Essa noite queria sentir que era eu mesma quem comandava e não uma maquiagem cobrindo metade do que eu sou, nada de acessórios, queria saber até onde ia meu poder.Coloquei o sapato mais alto que eu tinha.Comecei a andar pelas ruas escuras e ao mesmo tempo agitadas, andei até onde eu conseguia andar com aquele salto, e parei em um bar, onde tinha dezenas de homens que certamente estariam me despindo com os olhos assim que eu entrasse nesse bar.Mas enfim, parei alí tomei uma dose de uísque, e apostei mais uma dose de uísque na sinuca, com dois marmanjos.Arrebentei na sinuca e no rebolado ao som de Mart'nália, saí de lá intocada e desejada por todos daquele recinto.Vaguei mais um pouco, me desviava das provocações machistas da rua, enquanto eles assobiavam, isso soava como música para os meus ouvidos, eu estava sendo notada, não importa se eles queriam um minuto, uma hora, um segundo comigo, eu sabia que estava ali.Parei agora em uma boate, reparei que ali seria a oportunidade perfeita pra ser nenhuma culpa ou recriminação eu mostraria o quanto eu poderia ser uma mulher de verdade.Logo na entrada, mulher sem acompanhante não pagava, entrei e ao dar os primeiros passos já fui assediada, por dois rapazes, que atrevidamente olhavam pro meu decote, sem nenhum puder cheguei no moreno que me agradou, puxei-o e logo de cara dei um beijo quente nele, que certamente desceu quente nele também, e fui saindo sem dizer nada, ele ficou assustado com minha ação, tentou me puxar de novo, mas como a noite estava so começando e o local tinha muita gente, logo me perdi na multidão e na música,ao som do psy trance, comecei a me soltar, deixei a batida do som me levar, logo pedi uma tequila, dancei até meus pés pedirem socorro, e enquanto estava indo ao banheiro , encontrei um antigo amor, que logo me reconheceu, tentou puxar conversa, fui polida e logo tratei de pular fora, naquele dia eu so admitia novidades, o que era antigo eu deixava no meu múseu particular.Fui ao banheiro, fiz o que tinha de fazer, e ao sair já de cara encontro aqueles monumentos vistos so em revistas pornográficas, ele logo me puxou para conversar, vi que até a conversa era de profissional, decidi entrar no jogo fingindo não entender a dele, dancei mais um pouco com ele, então ele me chamou para sua casa, sem medo algum, eu o levei em direção ao lugar mais escuro da boate, o tirei do sério e de cena por alguns instantes, depois disso aceitei o convite, seguimos em direção da casa dele com uma garrafa de uísque na mão comprada na boate, chegando lá, encontro todos os tipos de adereços que uma mulher adoraria conhecer, ele colocou uma música estilo baladinha, mas acho que naquele momento não reconheceria nada que estivesse tocando, então ele foi me degustando pouco a pouco....


Não lembro porque não terminei, deve ter dado sono ou nem acreditei no final dessa balela rss

Jamais fomos modernos ( ou sobre coisas antigas e novas)


Como adoro pegar emprestado títulos de livros para minhas postagens, hoje escolhi o título do livro de Bruno Latour, que inclusive ainda não li, mas tenho uma base do que seja, a partir dessa frase "até mesmo aquele que se autodenomina pós-moderno, mal chegou a ser moderno" .

Parece haver na história uma guerra teórica acirrada entre aqueles que um dia de autodenominaram pós-modernos e os que leem sobre sobre o passado ad infinitum. E é mais ou menos lógico pensar que sempre nos pensaremos modernos em detrimento daqueles que já foram, e a modernidade não está apenas no fazer, mas também no pensar. Consideramos nossos pais e avós antiquados, com pensamentos retrógrados e um dia nossos filhos também pensarão isso de nós.

Nesse ínterim, ocorre também o inverso, pessoas que acreditam que o passado foi sempre melhor, que a musica, literatura, pessoas, sentimentos morais e éticos eram melhores em épocas anteriores, quando na verdade esse saudosismo só parece um pensamento carquético e tomado de síndrome de Peter Pan. Essa explosão juvenil de virilidade e ao mesmo tempo de que sua moral é melhor do que nos tempos atuais no meu ponto de vista é um saco. Ficar discutindo em mesa de bar porque o vinil era bom e exigia mais esforço físico e mental pra achá-lo e a "garotada" de hoje em dia não dá valor porque consegue facilmente na internet. Meu amigo, aceite. A "modernidade" taí pra facilitar, se você sofreu em sua nobre juventude pra conhecer a cultura que você julga ser a melhor.

A próposito, nós estamos fritos nessa linha tênue entre essa saudade do passado e ainda achar que somos modernos.

Vá escutar um rock rural e matar a saudade de quando o capitalismo era so a menina dos olhos do Brasil

Nós que nos amamos tanto



Algumas pessoas já  me perguntaram como está sendo a experiência de ser mãe, ou como é maravilhoso, ou pra dizer que eu iria pagar meus pecados, saber o que é bom pra "tosse" (eu ia ter um filho ou conhecer o Osama Bin Laden?!). Pois bem, estou aqui pra falar tudo o veio a mim  antes do daquilo que as pessoas chamam de dádiva: ser mãe. E se pra você, esse é um tema sonolento, já pode parar de ler.

1. Sobre ser mulher: pra falar de gravidez, primeiro é preciso falar o que é ser mulher em uma sociedade que prega que todas elas devem casar e procriar feito coelho e que as mulheres já nasceram destinadas somente a isto, Ledo engano, embora a reprodução seja natural entre os seres vivos, nem todas as mulheres sonham em casar e ter filhos. As que declaram não querer casar ou ser mãe são apedrejadas mentalmente (e em alguns casos fisicamente mesmo). O fato da mulher estar preparada biologicamente para ter filhos não significa que ela esteja preparada psicologicamente para isso. Felizmente, hoje em dia existem ainda muitas opções, responsabilidades e vontades antes de ter um filho e a mudança desses planos acarreta sérias mudanças psiquícas nas mulheres que, querendo ou não, é sempre a mais responsavél pela criança.

2. Sobre estar grávida: A concepção: era noite e estavamos chegando em casa... (vocês acham mesmo que eu ia contar isso? ha ha). Lembro como se fosse hoje o dia em que descobri que estava grávida  (30/12/2013), foi um choque, chorei muito e o que posso dizer é que não foi de alegria (grupo das mãezonas com mimimi em 3,2,1), foi de um tremendo susto, um soco no estômago e entrei em estado de letargia por longos 3 meses enquanto sofria muito com enjôos intermináveis (isso quase acabou com minha pouca sanidade). Talvez o que poucos sabem é que gravidez não tem magia nenhuma (quer magia assista filmes da Disney), tem muita dor, muito incômodo, muito choro por nada (ou por tudo). Só caiu a ficha sobre as consequências que eu teria de enfrentar com essa nova vida após o primeiro trimestre quando eu voltei a vida real. Foi nesse período em que tive uma crise muito forte de "eu não vou conseguir, eu não sei cuidar nem de mim, como vou fazer mestrado, doutorado, Phd, produzir um filme independente, escrever um livro, mudar o mundo, ir pra Cuba, botar a culpa no PT?!". Passei mais longos 3 meses refletindo sobre essas mudanças, achando que o mundo havia acabado pra mim, que jamais poderia realizar meus sonhos (os mais mesquinhos possíveis). Fui ter paz de espírito apenas no último trimestre quando aprendi a remanejar minha vida, redescobri a vida, comecei a fazer planos à 3.

3. Sobre o nascimento e os dias que se seguem: O nascimento foi outra situação que não foi tão mágico assim (foi emocionante, mas não nessa magia que todos pensam). Primeiro porque eu estava extremamente cansada de ajeitar os últimos detalhes, segundo pelo medo da cirurgia (de não sobreviver, de esquecerem um bisturi dentro de mim, de roubarem meus orgãos pra vender no mercado afro [drama queen]). Quando vi George a primeira vez eu quase chorei, parecia que ainda não acreditava que ia ser mãe, so acreditei quando vi aquele rostinho magrinho e indefeso com o choro "miúdo" e ralo que logo cessou. Quando saí da sala de cirurgia me sentia tão estranha, sabendo que haveria uma nova jornada em que meu próprio umbigo não seria mais o foco, nem meu nem de ninguém. Durante as duas primeiras semanas em casa o estranhamento foi grande, afinal era uma pessoa diferente em minha casa, dormindo em meu quarto convivendo e dependendo de mim pra tudo. Eu não sabia quem estava mais assustado, se George que não conseguia mamar direito, ou se eu que tinha medo de não saber me virar. Acontece que, ao me tornar íntima do meu filho, o medo foi passando, o relacionamento foi sendo construído passo a passo tal qual um casamento, em que um vai aprendendo com o outro. Não é esse "NASCEU , AMOU". Pelo menos não comigo, cada dia era um passo mais próximo desse amor de mãe que todos diziam que eu so entenderia no dia em que me tornar-se mãe, pois bem, tornei-me mãe e posso afirmar agora com todas as palavras: É MARAVILHOSO! é indescritível ver e acompanhar cada aprendizado, curar cada ferida, ninar cada noite, cansar e amar mais ainda quando dorme (sim, o melhor de ser mãe é ver seu filho dormir e sussurrar UFA. Só as mães são felizes!!!!

O grande mentecapto (ou sobre as múltiplas facetas de ser Eu, eu mesma e Ivila)

Tem gente que julga, a grosso modo, que chegaremos à vida adulta sem muitas alterações no modo de pensar e ver a vida, como se fossêmos papeis limpos saídos da resma, como se a originalidade fosse uma obrigação que nos mantém longe da vulgaridade e banalidade que a vida tem se tornado. Olhando em retrospecto, vejo que muitos tiveram expectativas em mim, e de quando em vez vociferam que eu mudei, para mim soa como um elogio, penso eu, de que teria valido tantos anos de leituras, de músicas, de horas nos teatros, de horas de afinco conversando e socializando idéias com amigos e a família. É banal, meu caro. Agora eu entendo o que quer dizer pés no chão, não apenas por ter me tornado mãe, não apenas por casar, não apenas por me preocupar com coisas que realmente pesam e preocupam, mais do que o noticiário na TV, ou a prova da semana que vem , e, que as vezes se equipara a síndrome de Atlas. Mas não somos mais os mesmos, não devemos  ser, não devemos jogar fora tudo o que conseguimos compreender, admiramos e deixamos de admirar, é crescimento.  As vezes regresso também. Todo esse saudosismo de que “no meu tempo era melhor”, tudo isso é equívoco, temos de seguir em frente. A verdade é que, historicamente,  estamos fadados a avanços e retrocessos, vivências que jamais poderão ser apagadas. Também é verdade que alguns vão com raiva da gente, outros vão com angústia, outros com saudades, outros mortos, outros simplesmente desaparecem no tempo e algumas vezes a vida nos permite que lembremo-nos remotamente de sua existência, só pra dar aquele sorriso no rosto e pensar que foi legal um dia, mas que hoje a vida anda a passos largos. Não devemos ceder ao instinto de rasgar nossas vestes e sair procurando a presa que não consegue escapar de nossas palavras, de nossos gestos mais brutais e vingativos. Ainda não somos civilizados, nem modernos, nem evoluídos. Apenas somos e estamos.

(Ps1.:Usando indiscriminadamente o título do livro do Fernando Sabino como título da minha postagem)
(Ps2.: Crétidos da imagem: Desenho de Thiago Ramos de França e foto de Denis Araújo)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O sutiã amarelado pendurado na maçaneta da porta, os seios fatigados da prisão diária caem  se deliciando furtivamente do vento seco, deixando os mamilos enrugados, misturados ao suor que escorre lentamente entre abertura que separa os dois fartos seios. Nada parece mais saboroso que língua e mamilo juntos, entretanto hoje ela não quer. Hoje ela quer se masturbar como se fosse a única a entender a beleza daquele momento, hoje ela não quer um intruso lhe direcionando quando e como gozar. Hoje ela quer abrir as pernas pra si mesma e dizer o quanto se deseja, quer meter-lhe os próprios dedos, cada um lentamente, ou todos os cinco, ou decidir em que quantidade ou intensidade vai expor a si mesmo aos gritos esganiçados de prazer.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Amor à infância.

     Ela choramingava sentindo uma dor fina, enquanto ele levantava o zíper da calça e a colocava de volta no banco do carona. E, sussurrando baixinho, ordenou:
        - Não conte a ninguém, será um segredo só nosso. E fez uma mágica com uma moeda para acalmar a sobrinha de cinco anos.
     Era cedo da noite quando o tio foi buscá-la em casa. Ela esperneava na casa da vizinha, sua mãe estava ausente fazendo os preparativos fúnebres do seu marido infartado.
     Ele a colocou em seu uno mille, no caminho parou em frente a casa de sua namorada, bateu mas ninguém atendeu. Chamou-a de puta, entrou no carro, olhou sorrateiramente para as finas, delicadas e cândidas pernas por baixo das curtas saias de criança florescendo no banco ao lado e perguntou
     - Você quer aprender a dirigir?
     - Sim. Respondeu timidamente a menina.

     Ele a colocou em seu colo, passando a mão direita por dentro da saia, a calcinha fina que obstruia a passagem foi logo afastada, e, metendo o dedo em sua novíssima juventude, arrancou-lhe um ruído choroso. Arrancou-lhe também a tranquilidade da infância, a saúde dos pensamentos e um medo atávico das pessoas.