sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Curta metragem sobre Praça da Cultura

Meus alunos do 9° ano do Colegio João Silva, produziram um curta-metragem sobre as praças de Imperatriz, hoje estou postando o video sobre a Praça da Cultura. Em breve postarei os outros...

terça-feira, 27 de novembro de 2012


E se eu te amo na quarta,
Não te amarei na quinta.
Isso pode ser verdade.
Porque você reclama?
Te amei na quarta sim, e daí?"

Edna St. Vincent Millay

sábado, 24 de novembro de 2012

Agonias Ilustradas, de Jeferson Bandeira


Release

Agonias Ilustradas (2012), de Jeferson Bandeira, é um livro-baralho, composto por 108 micronarrativas, divididas em 3 partes: Breviário ("o primeiro baralho"), Obsoleto ("o segundo baralho") e Cartas na Manga, que pode ser visto como um "extra". Cada página do livro corresponde a uma carta de um baralho, num jogo que pode possuir vários ritmos, dependendo do grau de interação e leitura de quem o abre para ler. Nas palavras do autor, "vislumbra-se o flerte: poesia & micronarrativa. Funde-se outra literatura, não estanque, avessa às alturas. Impolidas linhas que tramam na incultura. Fluido móvel, berço ou lápide da descompostura. De hirtos espinhos, flor que se inaugura. Enfim rompidas, encalacradas aparências. Faz-se convertido, cada ponto final em reticências". 

O livro se inicia com uma micronarrativa que aponta para a metaleitura ficcional:
O inusitado

Abre-o. No curto folhear, assoma a página. Pesa o dedo sobre ínfimo léxico. Força, nota pulso, até que rompe. Do rasgo hemorrágico, mina o jorrar d’um mundo mágico e plausível.



E o livro se encerra com uma micronarrativa provocativa e intrigante: 
Multifuncional
Na identidade, masculino. No jeito de ser, feminino. No trabalho, o que o cliente pedisse.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pré-suposto

O semblante era o de uma puta que acaba de ser autuada por danos morais
Seu olhar acompanhava o corpo que impetuosamente se jogaria em frente ao próximo carro que passasse. Estava destinada a morrer de amor ou de acidente, o que dá no mesmo, porque quem não escolhe a quem amar e não tem a recíproca está decididamente entrando em um acidente fatal.
Há uma ética nisso tudo?
Estabelecer os parâmetros de quanto se deve sofrer e por quanto tempo se deve amar? Ela achava que uma paixão tem prazo de validade e deveria durar o tempo de uma noite calorosa, jamais dar tempo suficiente pra conhecer os gostos e os desgostos e fora assim que seu cérebro(sim, é o maldito cérebro que se encarrega de seletivar os cretinos que entrarão em nossas vidas) se afetuou por um belo par de olhos grandes e reluzentes. Poderia ser uma bunda, umas pernas, mas os olhos era de uma singularidade digna de qualquer poeta, sua escuridão permanecia intacta. O que dava raiva não era não ser correspondida, é que nem por engano ele olhava para ela, não conseguia notar e nem permanecer com os olhos nela. Seja na fila de um banco, ou na mesa de um bar, qualquer flerte segue um padrão de olhares furtivos, nada exageradamente criativo, a naturalidade da coisa, essa era a ética destinada aos olhares, entretanto ela quebrara todos os parâmetros e já não utilizaria a discrição como parte do processo da conquista. Descobrir um nome, um número de telefone, um esbarrão em algum supermercado, qualquer coisa que ele tivesse de parar cinco segundos ao menos para xingar ou pedir desculpas, não importasse o que aconteceria, o importante seria parar de procrastinar. Qualquer diálogo ou até solilóquios serviria, então ela para e pensa como é difícil ser difícil em tempos fáceis, em que qualquer mulher adiciona algumas palavras difíceis, bonitas e interessantes nas redes sociais e se passa por inteligente. Como competir com tanta pose exposta, e ela sem nada a retibruir a não ser as amarguras de uma pré-adolescência cheia de traumas ( e quem não os tem?!), espinhas, menstruação atrasada, pais divorciados, foras, comida estragada, bebida demasiadamente quente, sexo aleatório, contas não pagas, traições não vingadas e todas as outras coisas nas quais a gente coloca a culpa pra se sentir melhor. Poderia dizer que curte jazz, mas como saber se ele não tem ranço ao escutar boa música? É compreensível que ele possa ter defeitos, afinal porque raios alguem teria olhos tão perfeitos se não tivesse uma unha encravada, ou sífilis, incontinência urinária, ou algo do tipo? Então porque continuar com essas tentativas inúteis sem saber o que pode ser encontrado?!
A solução dos dias de insonia e masturbação veio ao lembrar que além do espírito investigativo existem informantes que se  vendem por algumas cervejas, entretanto sua indiscrição ultrapassaria o grau permitido se um desses investigadores fosse amigo do dito cujo, mas a essa altura do campeonato qualquer atitude seria válida. A história da história da vida real se confunde com os atrativos da criatividade do inverossimel quando se percebe que as coisas ja foram mais fáceis quando o homem das cavernas se interessaria por qualquer mulher das cavernas que tivesse uma abertura suficiente para seu orgão progenitor, o fato é que hoje em dia a mulher das cavernas tem que gostar de Chico Buarque, Caetano Veloso, assistir filmes de Wood Allen, viajar pra Europa, ter cd dos Beatles para que ocorra uma segunda ocasião além do primeiro ato. Era tão mais fácil viver sem a ética do bom gosto, dos bons costumes e tudo se resumia ao que era ou não carnal. Até chegar ao investigador mais próximo e gastar as economias servindo cerveja e petisco e pedindo as informações necessárias para a segunda investida, entretanto ao fisgar as devidas informações a última coisa que o Sherlok Holmes de quinta disse é que o "my precious" era seu bofe divino, que talvez um dia quem sabe eles quisessem experimentar algo com alguém tão desinteressadamente mulher, ela não seria convidada.

Renovar, dia a dia, sol a sol, renovar! [Confúcio]

Não me espanta que todo dia a saudade se renove
Afinal, esse é o lixo nostálgico de que tanto falava Gabriel Garcia Marquez
Cada letra de uma musica ou de um poema tenta expurgar todo o sentimento
De que um dia fomos dois.

Vou apodrecer remoendo a vida
Lembrando infinitamente as nossas rotinas
Nem sempre a lembrança vem em forma de saudade
As vezes é so uma constatação

Sou tão família, tão carente
Tão bordada entre carinhos e maus tratos
Afinal, poderei eu acusar alguem de solidão?


 Durmo horas pensando em acordar
Pensando ser perda de tempo esse sono profundo
Esquecer um pouco no que me transformei
Não procuro a morte, mas o desejo de hibernar e acordar em outra dimensão é latente

Escuto escondidas as piores canções que alguém machucado poderia ouvir
Nas minhas poucas letras há uma denúncia de quem espera os frutos de um novo tempo
Não sei bem explicar, se é vida, se é morte, se é tempestade
O que aparece é cada vez mais nefastp.

domingo, 11 de novembro de 2012

António Botto


Tenho a certeza De que entre nós tudo acabou. - Não há bem que sempre dure, E o meu, bem pouco durou. Não levantes os teus braços Para de novo cingir A minha carne de seda; - Vou deixar-te, vou partir! E se um dia te lembrares Dos meus olhos cor de bronze E do meu corpo franzino, Acalma A tua sensualidade Bebendo vinho e cantando Os versos que te mandei Naquela tarde cinzenta! Adeus! Quem fica sofre, bem sei; Mas sofre mais quem se ausenta!


Os Cantos de Maldoror

Duas coxas nervosas se colaram estreitamente à pele viscosa do monstro, como duas sanguessugas; e, os braços e as nadadeiras entrelaçados ao redor do corpo do objeto amado, rodeando-o com amor, enquanto suas gargantas e seus peitos logo formavam coisa alguma, a não ser uma massa glauca, com exalações de sargaços; no meio da tempestade que continua a provocar estragos; à luz dos relâmpagos; tendo por leito de himeneu a vaga espumosa, transportados por uma corrente submarina como em um berço, rolando sobre si mesmos, rumo às profundezas desconhecidas do abismo, juntaram-se em uma cópula longa, casta e horrorosa!... Finalmente, acabava de encontrar alguém semelhante a mim!... De agora em diante, não estava mais só na vida!... Ela tinha as mesmas idéias que eu!... Estava diante do meu primeiro amor!

Lautréamont 

Os Estatutos do Homem (Thiago de Mello)


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.


A Noite

Não consigo dormir.
Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras.
Se pudesse, pediria a ela que fosse embora,
mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.
Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas.
Dispa-me.
Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.

GALEANO

L'homme révolté - Albert Camus


A Queda

É como génese da revolta que o  tem lugar e só nessa medida podemos compreender a revolta, os sentimentos que lhe estão na base e as consequências que dela advêm. Mas  por que motivo? Porqueacontece que os cenários desabam. Os gestos de levantar, o carro – eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, carro – eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono e segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo, esta estrada segue-se com facilidade a maior parte do tempo. Só um dia o ‘porquê’ se levanta (…).i É este "porquê" que nos torna estranha toda a nossa cadeia de hábitos e é neste preciso momento que a nossa vida começa a ruir- este é o momento do absurdo, o qual não é mais do que a estranheza do mundo, o mal-estar que sentimos, a "náusea", como lhe chamou Sartre, sendo na morte que ele adquire toda a sua grandeza. A morte é o desconhecido, o inefável e mais do que nunca nos põe face a face com a pergunta pelo sentido, isto é, vale a pena ter esperança apesar de tudo ou é preciso matarmo-nos?
O ser humano tem uma sede desmesurada de absoluto; quer compreender o mundo, quer reduzi-lo a si mesmo, quer fazê-lo seu, só que entre o mundo e o homem há um grande divórcio. Não se trata de uma exclusão ,mas antes de uma presença comum de duas realidades que são mutuamente alheias e ininteligíveis.
Tanto de si como do mundo, o homem só conhece estilhaços, pedaços aqui e acolá que de forma alguma lhe proporcionarão um verdadeiro conhecimento. De nada servirão ao homem as mais perfeitas e acabadas teorias da ciência que perversamente tudo pensam explicar, quando nem de si próprio o homem tem certezas!
O divórcio, a distância que separa o desejo incomensurável de unidade e de clareza do mutismo do mundo, é o próprio absurdo. Esta falta de coincidência entre o homem e o mundo, entre o homem e a natureza, abre um fosso entre o homem e as forças que o rodeiam e o absurdo expressa precisamente esse momento em que "se quebra a aliança com as coisas". Ao mesmo tempo que é divórcio, o absurdo acaba por ser o único elo de ligação entre o próprio homem e o mundo. No entanto, isto não conduz ao desespero na medida em que agora não se trata de medir a vida em termos de ter ou não ter sentido, pois é precisamente o "não ter sentido" que confere à vida um sentido, ou seja, não ter sentido é o seu sentido. Sendo esta a única certeza do homem, trata-se de saber se é, e como é possível viver com o absurdo. Mas se o absurdo é essa tensão entre o mundo e o homem, há que condenar necessariamente o suicídio na medida em que este seria a eliminação de tal divórcio; eliminar um dos pólos desta dicotomia (mundo/homem) será eliminar o absurdo- é necessário, pois, que se mantenham numa tensão perpétua.
De facto, todo este universo de angústia, de impotência e, por outro lado, o desejo de unidade não são tão originais de Camus. Muitos filósofos e pensadores nossos conhecidos se familiarizaram com esta temática: Kierkegaard, por exemplo, mais do que descobrir o absurdo, viveu-o de uma forma desesperada; Jaspers defende o nada como única realidade e o desespero como única atitude; Heidegger afirma-nos uma existência humilhada…
Tanto Kierkegaard, como Jaspers ou Heidegger se situam num espaço onde não há lugar para a esperança, só que embora tenham partido, de facto, do universo do absurdo acabaram por divinizar tudo aquilo que os oprimia, encontrando, por fim, a esperança, esperança esta de ordem religiosa. Jaspers dá um "salto" e transforma o absurdo em Deus ao afirmar um sentimento supra – humano da vida. A partir do momento em que a noção de absurdo serve de "ponte para a eternidade", já não está de forma alguma ligada à lucidez humana . O "salto" para Deus é o próprio fim do absurdo enquanto tal. É necessário que não exista esperança- este é o pressuposto da luto entre o homem e o absurdo.
Penso que é importante ter aqui em linha de conta a dificuldade de Camus na sua relação com Deus; por uma lado a inegável presença da ideia de Deus e, por outro, o inegável sentimento da sua ausência.
Ainda em Kierkegaard, o desejo de clareza deve renunciar a si mesmo para encontrar satisfação e isto não é mais do que dizer ao homem absurdo que haverá um final em que todas as contradições não passarão de jogos, isto é, há também em Kierkegaaard lugar para a esperança. Por isto mesmo, o homem absurdo não é o de Kierkegaard, mas sim aquele que se mantém fiel ao absurdo -a evidência que o despertou do seu sono fastidioso e quotidiano.
Olhar o absurdo é fazê-lo viver, e fazer viver o absurdo é viver! Se é necessário que se viva esse absurdo, se é necessário que não nos afastemos dele, só há uma saída coerente: a revolta. Esta revolta não é mais, no fundo, do que a luta eterna entre o homem em si e a sua opacidade.

Do not Disturbe - Parte 2

Eu digo
que não cabe
mais em lugar algum
essa indecência
essa putrefação
essa insipidez
essa agonia
essa acidez

Tudo me foge ao raciocínio
mas eu simplesmente
não curto mais as mesmas coisas
não suporto mais as mesmas pessoas
A eterna repetição

Não tem mais samba
Não tem mais rock
Não tem mais música
Me nego a acreditar que isso tudo seja legítimo
É apenas uma eterna repetição

De acordes, de letras, de passos de dança
Não passa de um plano forjado pra nos entreter
Não cuspo no prato que comi, comi com a mão.

Não Sei [ o que eu quero]

Não que eu tenha muito pela frente
Não que eu vá morrer tão cedo
Não estou abrindo mão de nada
Não estou dizendo adeus
Mas, e se a vida for isso?

E se eu for embora e não disser tudo aquilo que considero importante?
Quem vai saber o que devia ter sido feito, além de mim?
Então ninguém sentirá realmente falta tanto quanto eu
E se eu não puser os pés pra fora para agir?!

Não quero sangrar até morrer,
Não quero jogar eternamente
Pensar até secar a alma
Quero parar de sentir sozinha
Quero as bengalas bem-vindas da vida


sábado, 10 de novembro de 2012

Geração "Lennonista"

"Se vestem como Tarzan,
tem cabelo de Jane,
mas cheiram como a Chita."
 - Ronald Reagan,
então governador da California.
Referindo-se aos hippies (1967)

"I hope i die before get  old"
- Peter Towshed, The Who,
My Generation (1967)


O conceito polêmico de geração é um conceito marxista. Mas não leninista, e sim lennonista.
Adeus, Lênin, bem vindo Lennon! O marxismo-leninismo morreu, viva o marxismo-lennonismo!
E falar em geração é falar em geração baby-boom . Aquela geração que nasceu no imediato pós-II Guerra (meados dos anos 1940, início dos 1950) e que hoje já passou pela experiência de poder em várias partes do mundo. E como professor baby-boomer, nascido em 1951, sempre digo orgulhoso aos meus alunos, até  com certa empáfia, que pertenço a uma geração a uma geração totalmente mais: mais alta, mais ousada, mais inteligente, mais revolucionária, mais criativa. E mais mentirosa também!...
A geração baby-boomer está ultrapassando a maturidade. Cantada nos versos de Pete Towshed, do The Who, - em My Generation (1967): "i hope  i die before i get old" (espero morrer antes de ficar velho), a geração dos que nasceram e se formaram no contexto da Guerra Fria, da aventura espacial, da revolução científica e tecnológica, da emergência do rock, da revolução sexual, da luta pelos direitos civis, e que puderam testemunhar ou ate participar ativamente , de transformações importantíssimas, que até hoje assustam conservadores de vários tons e ideologias.

Martin Cézar Feijó
Professor de Comunicação Comparada da FACOM-FAAP