sexta-feira, 31 de maio de 2013

O velho que nunca cochilava

Ele era o mais velho do asilo, fora deixado muito cedo lá. Aos 53 anos, seu único filho já o havia abandonado e prometeu que sempre o visitaria, o sempre durou apenas dois meses. Os cheques chegavam rigorosamente todo quinto dia útil de cada mês. Ele não sofria de insônia, simplesmente não dormia, nem sonhava. Enquanto todos dormiam, ele jogava animado e sozinho o seu truco, adorava a solidão, por isso não teve esposa. Achava o sono uma perca de tempo, a velhice lhe proporcionou a seleção de seus horários e suas próprias atividades individuais. Todos os dias no findar das tardes, jogava xadrez e sempre perdia, para se fazer de bom perdedor. Odiava as frases feitas de idosos que repetiam papagaiosamente que ja aprendera as lições da vida, que os jovens achavam-se imortais e que artrite e artrose eram as piores coisas da velhice. Não era ranzinza, não era mal humorado, apenas silencioso. Não guardava rancor do filho, afinal foi fruto de uma noite de bebedeiras e de uma ejaculação precoce.Achava que Deus estava adiando sua morte, pois esperava ansiosamente morrer em sua cadeira de balanço com a maciez e tranquilidade de uma sesta após o almoço.

O jovem fanático

Nada lhe interessava, nem mesmo o sexo. Odiava música, qualquer tipo. Na verdade não suportava o barulho, enquadrava os seres humanos como incompletos, como se a evolução não tivesse terminada e a música como uma tentativa frustrada de auto-afirmação humana. Pensava na incompletude das coisas. Odiava os livros, pois temia sentir saudades dos personagens e odiava a saudade também. Nunca havia beijado, gozava só em suas poluções noturnas, e também não gostava de acordar sujo. Estudou só até a quinta-série pois odiava ter de decorar as coisas, odiava ter amizades porque não gostava de encontros que durassem mais de 5 minutos. Odiava pensar na morte, pois odiava pensar em sua mãe chorando por ele. Pensava em ir embora para as montanhas e viver como um ermitão, mas odiava rótulos. Só havia uma coisa  de que gostava, do seu próprio umbigo, lhe parecia tão diferente de tudo que conhecia, todas as dúvidas se dissiparam no dia que percebeu a aura envolta dele, era impreciso e inchado, não cabia em si. Era só disso que ele precisava, de seu próprio umbigo.

Filmes que levam a outros filmes

Lembro da emoção ao assistir Meia-noite em Paris de Wood Allen, é um lindo filme com clássicos artistas da tão aclamada Europa, com um rico legado de artes plásticas, literatura, filmes, entre outros. Um clássico atrás do outro, exaltando a beleza de cada época com um saudosismo extremo que até embarca o ator principal em uma impressionante viagem  à época de cada um dos artistas apresentados. Agora a realidade, os filmes de Wood Allen entre outros cineastas apresentam uma Europa exuberante, rica, fiel a sua cultura e extremamente ligada aos valores eurocêntricos. E as devastações que ocorreram? Partir da realidade dos artistas ou partir da realidade de "normais" que sofreram com as duas Grandes Guerras (fora as outras guerras consideradas 'menores'). São bons filmes para chafurdar em uma saudade intelectual(lóide), mas temos ótimos filmes pra quem gosta de um choque de realidade não menos intelectual (pra quem insiste nesse discurso) como Ladrões de Bicicletas de Vittorio de Sica, que retrata as devastações na Itália pós-guerra, Asas do Desejo de Win Wenders e as inquietações e frustrações em Berlim. Canção da Primavera, que também representa a vida pós-guerra na Iugoslávia e a falência dos regimes socialistas. É obvio que cada cineasta traz em seus filmes as representações que bem entender e é tudo uma questão de gosto.Agora o feedback negativo: o próprio Wood Allen remete também ao filme O declínio do Império Americano de Denys Arcand que faz uma crítica muito engraçada a respeito de quase tudo, desde os diálogos intelectuais psicanalistas de um ciclo vicioso pan-sexualista freudiano no qual a maioria dos acadêmicos da área de humanas e sociais se prendem até os rituais sexuais da raça humana para barganhar o coito tendo de se valer de todo pedantismo de leituras desconhecidas ou de filmes aclamados não-americanizados. É bom se deliciar com bons filmes, mas ninguém é obrigado a ter um choque orgasmático com um filme de Godard por exemplo, assisti Viver a vida e nem por isso tive um surto de inspiração estilo maio de 1968, talvez não tenha lido o suficiente sobre, mas tem filmes que você não precisa ler resenhas para entender. Inspirações, inspirações, inspirações. Apenas uma mentecapta falando de filmes.

O sono dos justos

Ele sempre acordava cedo todas as manhãs, não tomava café pois fazia mal, não consumia açúcar, não bebia, não fumava, sexo só com camisinha. Era o mais pontual da firma, nunca deixou de votar, assistia aos horários eleitorais, debatia sobre política, dominava a retórica como ninguém. Só tinha um defeito, escutava suas músicas prediletas no último volume e relutava quando indicavam o uso de fones de ouvido , considerava um insulto à sua liberdade de expressão. Foram dois tiros secos que ecoaram pelos apartamentos daquele prédio, o homem que gostava da música alta já não escutava nada mais. O autor  dos disparos ria e vociferava: vai escutar música alta lá na casa do caralho. Logo após ele pensou que o silêncio lhe incomodava e desceu um tio certeiro em sua própria cabeça. Diagnosticaram o homicida-suicida como louco. Ele que era louco?

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A eterna fase fálica

Ele amava festas, ficava eufórico quando seus amigos boêmios o convidava para orgias musicais. Era considerado o ébrio da festa, um perfeito bon vivant. Sua esposa sempre lhe cortava o tesão quando lhe dizia que era preciso ter regras, trabalhar e viver moderadamente. Ele dava com os ombros e saia para beber rigorosamente as 18:30. Certa tarde ele foi convidado para uma intrigante festa à fantasia em que não podia levar acompanhante, ele sabia que compraria briga com a mulher mas ela logo o perdoaria. Comprou uma fantasia de vagalume e encaixou uma lanterna entre a fantasia e a bunda. Saiu de casa escondido, colocou a fantasia em uma sacola, foi ao shopping e se trocou, chegando na festa começou a beber e dançar, lá pelas tantas da madrugada, já cansado resolveu sentar de uma só vez, e a lanterna alavancou-lhe uma socada no rabo que ele caiu no chão chorando de dor, suas pregas abriam e fechavam como se chorasse junto. O levaram para o pronto-socorro, lá teve de fazer uma micro-cirurgia para a retirada da lanterna, voltou para a casa envergonhado, não precisou nem pedir desculpas à esposa pois a desgraçada ria freneticamente. Foi notícia na cidade, passou até no jornal local, virou motivo de chacota, após meses ainda se ria do ocorrido. Em um domingo faltou energia e por ironia sua esposa logo achou uma lanterna, e pôs-se a rir sozinha, ele relutou mas riu também, e até pensou que há uma linha tênue entre a dor e o prazer.

(Baseado em uma historia contada no Programa do Ratinho há uns 10 anos)

1979

Era natal de 1979, ouvia-se nos rádios a comemoração da conquista da Lei de Anistia, ampla, geral e irrestrita. No auge dos seus 67 anos ele não entendia bem o que isso significava, mas falava-se bastante em liberdade, que agora as coisas seriam diferentes. Morava em uma cidade pequena, estudou até a quinta série e logo precisou trabalhar. Todos os dias pelas 6 horas da manhã, enrolava seu fumo e bebia uma xícara de café no quintal, ligava o rádio, escutava que o Brasil estava mudando e não entendia bem o que isso significaria para ele, na verdade só suportava escutar esse lenga-lenga pois esperava ansioso as músicas de Baby Consuelo e Angela Rô Rô. Não tinha esposa nem filhos, sempre achou as relações humanas enfadonhas, na verdade nem sabia o que era algo enfadonho, mas sentia, sentia não suportar mulheres por mais de um mês em sua casa. Uma vez, quando jovem namorou durante 15 dias uma mulata, mas ela queria morar junto, ter vários filhos e chamar de amor, e ele pensava: Mamãe sim me amava de verdade. Logo enjoava de todas, depois do sexo queria logo se vestir e ir embora, por isso preferia sua mão como companheira. Na noite de natal, as árvores cheias de pisca-pisca, as pessoas comprando e embrulhando presentes, e ele apenas preocupado com o que ia beber a noite. Nesse dia ele vestiu sua bermuda de sempre, foi até a farmácia e comprou um hidratante de calêndulas, passou no bar da esquina e comprou um litro de campari e voltou na mesma cadência. Sentou em sua cadeira de palha predileta, passou hidratante nas mãos e começou a bater punheta, e o rádio tocando 'amor, meu grande amor', a música era bonita, ele confessava, pensava nas mulheres que poderia ter conhecido, e nas noites perdidas caso tivesse casado, os pensamentos era intercalados entre os peitos da vizinha que se trocava com a janela aberta e toda a vizinhança conhecia o modelo do seu corpo. Tocando-se pela terceira vez ele cochila mansamente.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A vingança

Após perceber em frente ao espelho que o supercílio direito estava cortado, murmurou: "ainda arranco-lhe os bagos". Ela não queria estar na pele dele. Disse: "amor to indo a feira, comprar aquela galinha caipira que você tanto gosta". Entrou no mercado popular da cidade e comprou três metros de corda, um milho e uma lata de óleo, teve de comprar a galinha caríssima, mas valeria a pena. Chegou em casa e ele falava ao telefone com uma de suas amantes e se despediu sem diminuir o tom de voz "tchau  gostosa que a vadia voltou". Viu a galinha e insinuou uma semelhança, ela soltou um sorriso sem graça. Ele pegou uma latinha de cerveja e ficou deitado na cama assistindo enquanto esperava a janta, acabou cochilando na cama, ela dividiu a corda em duas e amarrou devagarzinho os pés e as mãos do esposo, mas antes tirou-lhe a cueca, esquentou o óleo na frigideira durante 15 minutos e quando ele para todos os lados espirrava, atirou-o em cima do pau, ele deu um grito estridente de dor, olhou para o seu fiel e viril escudeiro agora todo murcho e disse: "Vou te matar, sua puta louca, vou te esquartejar e te botar pros cachorros." Ela ria, e muito. Virou-lhe de bruços na cama, abriu seu cú com toda a força que lhe restava e enfiou a espiga de milho de uma só vez, que o fez sangrar e gemer  alto. A galinha tão almejada, ela pegou o fel e o obrigou a engolir. Saiu do quarto e foi fazer a janta. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Te adorando pelo avesso...

As pernas estavam bambas. Ela apanhara muito, esganiçava quando ele puxava seus cabelos, os pontapés na barriga a deixou rôxa. Ela implorava várias vezes para deixá-la com vida, mesmo que apanhasse bastante, achava que ainda havia muito a viver, achava. Ele iniciou o ritual diário rasgando sua blusa, amassando seus peitos, mordendo, abria-lhe o zíper do short e finalmente metia-lhe o pau com tudo o que podia, com toda força. Obrigava-a engolir a porra e no final socava o seu rosto até ficar inchado, até sumir os olhos. Ela sempre saia aos trapos, até a esquina e voltava, não tinha pra onde ir. Abria a porta e pedia perdão.