segunda-feira, 27 de maio de 2013

1979

Era natal de 1979, ouvia-se nos rádios a comemoração da conquista da Lei de Anistia, ampla, geral e irrestrita. No auge dos seus 67 anos ele não entendia bem o que isso significava, mas falava-se bastante em liberdade, que agora as coisas seriam diferentes. Morava em uma cidade pequena, estudou até a quinta série e logo precisou trabalhar. Todos os dias pelas 6 horas da manhã, enrolava seu fumo e bebia uma xícara de café no quintal, ligava o rádio, escutava que o Brasil estava mudando e não entendia bem o que isso significaria para ele, na verdade só suportava escutar esse lenga-lenga pois esperava ansioso as músicas de Baby Consuelo e Angela Rô Rô. Não tinha esposa nem filhos, sempre achou as relações humanas enfadonhas, na verdade nem sabia o que era algo enfadonho, mas sentia, sentia não suportar mulheres por mais de um mês em sua casa. Uma vez, quando jovem namorou durante 15 dias uma mulata, mas ela queria morar junto, ter vários filhos e chamar de amor, e ele pensava: Mamãe sim me amava de verdade. Logo enjoava de todas, depois do sexo queria logo se vestir e ir embora, por isso preferia sua mão como companheira. Na noite de natal, as árvores cheias de pisca-pisca, as pessoas comprando e embrulhando presentes, e ele apenas preocupado com o que ia beber a noite. Nesse dia ele vestiu sua bermuda de sempre, foi até a farmácia e comprou um hidratante de calêndulas, passou no bar da esquina e comprou um litro de campari e voltou na mesma cadência. Sentou em sua cadeira de palha predileta, passou hidratante nas mãos e começou a bater punheta, e o rádio tocando 'amor, meu grande amor', a música era bonita, ele confessava, pensava nas mulheres que poderia ter conhecido, e nas noites perdidas caso tivesse casado, os pensamentos era intercalados entre os peitos da vizinha que se trocava com a janela aberta e toda a vizinhança conhecia o modelo do seu corpo. Tocando-se pela terceira vez ele cochila mansamente.

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