Ele era o mais velho do asilo, fora deixado muito cedo lá. Aos 53 anos, seu único filho já o havia abandonado e prometeu que sempre o visitaria, o sempre durou apenas dois meses. Os cheques chegavam rigorosamente todo quinto dia útil de cada mês. Ele não sofria de insônia, simplesmente não dormia, nem sonhava. Enquanto todos dormiam, ele jogava animado e sozinho o seu truco, adorava a solidão, por isso não teve esposa. Achava o sono uma perca de tempo, a velhice lhe proporcionou a seleção de seus horários e suas próprias atividades individuais. Todos os dias no findar das tardes, jogava xadrez e sempre perdia, para se fazer de bom perdedor. Odiava as frases feitas de idosos que repetiam papagaiosamente que ja aprendera as lições da vida, que os jovens achavam-se imortais e que artrite e artrose eram as piores coisas da velhice. Não era ranzinza, não era mal humorado, apenas silencioso. Não guardava rancor do filho, afinal foi fruto de uma noite de bebedeiras e de uma ejaculação precoce.Achava que Deus estava adiando sua morte, pois esperava ansiosamente morrer em sua cadeira de balanço com a maciez e tranquilidade de uma sesta após o almoço.
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