O semblante era o de uma puta que acaba de ser autuada por danos morais
Seu olhar acompanhava o corpo que impetuosamente se jogaria em frente ao próximo carro que passasse. Estava destinada a morrer de amor ou de acidente, o que dá no mesmo, porque quem não escolhe a quem amar e não tem a recíproca está decididamente entrando em um acidente fatal.
Há uma ética nisso tudo?
Estabelecer os parâmetros de quanto se deve sofrer e por quanto tempo se deve amar? Ela achava que uma paixão tem prazo de validade e deveria durar o tempo de uma noite calorosa, jamais dar tempo suficiente pra conhecer os gostos e os desgostos e fora assim que seu cérebro(sim, é o maldito cérebro que se encarrega de seletivar os cretinos que entrarão em nossas vidas) se afetuou por um belo par de olhos grandes e reluzentes. Poderia ser uma bunda, umas pernas, mas os olhos era de uma singularidade digna de qualquer poeta, sua escuridão permanecia intacta. O que dava raiva não era não ser correspondida, é que nem por engano ele olhava para ela, não conseguia notar e nem permanecer com os olhos nela. Seja na fila de um banco, ou na mesa de um bar, qualquer flerte segue um padrão de olhares furtivos, nada exageradamente criativo, a naturalidade da coisa, essa era a ética destinada aos olhares, entretanto ela quebrara todos os parâmetros e já não utilizaria a discrição como parte do processo da conquista. Descobrir um nome, um número de telefone, um esbarrão em algum supermercado, qualquer coisa que ele tivesse de parar cinco segundos ao menos para xingar ou pedir desculpas, não importasse o que aconteceria, o importante seria parar de procrastinar. Qualquer diálogo ou até solilóquios serviria, então ela para e pensa como é difícil ser difícil em tempos fáceis, em que qualquer mulher adiciona algumas palavras difíceis, bonitas e interessantes nas redes sociais e se passa por inteligente. Como competir com tanta pose exposta, e ela sem nada a retibruir a não ser as amarguras de uma pré-adolescência cheia de traumas ( e quem não os tem?!), espinhas, menstruação atrasada, pais divorciados, foras, comida estragada, bebida demasiadamente quente, sexo aleatório, contas não pagas, traições não vingadas e todas as outras coisas nas quais a gente coloca a culpa pra se sentir melhor. Poderia dizer que curte jazz, mas como saber se ele não tem ranço ao escutar boa música? É compreensível que ele possa ter defeitos, afinal porque raios alguem teria olhos tão perfeitos se não tivesse uma unha encravada, ou sífilis, incontinência urinária, ou algo do tipo? Então porque continuar com essas tentativas inúteis sem saber o que pode ser encontrado?!
A solução dos dias de insonia e masturbação veio ao lembrar que além do espírito investigativo existem informantes que se vendem por algumas cervejas, entretanto sua indiscrição ultrapassaria o grau permitido se um desses investigadores fosse amigo do dito cujo, mas a essa altura do campeonato qualquer atitude seria válida. A história da história da vida real se confunde com os atrativos da criatividade do inverossimel quando se percebe que as coisas ja foram mais fáceis quando o homem das cavernas se interessaria por qualquer mulher das cavernas que tivesse uma abertura suficiente para seu orgão progenitor, o fato é que hoje em dia a mulher das cavernas tem que gostar de Chico Buarque, Caetano Veloso, assistir filmes de Wood Allen, viajar pra Europa, ter cd dos Beatles para que ocorra uma segunda ocasião além do primeiro ato. Era tão mais fácil viver sem a ética do bom gosto, dos bons costumes e tudo se resumia ao que era ou não carnal. Até chegar ao investigador mais próximo e gastar as economias servindo cerveja e petisco e pedindo as informações necessárias para a segunda investida, entretanto ao fisgar as devidas informações a última coisa que o Sherlok Holmes de quinta disse é que o "my precious" era seu bofe divino, que talvez um dia quem sabe eles quisessem experimentar algo com alguém tão desinteressadamente mulher, ela não seria convidada.
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