quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Casa de tantas mulheres

Tinha  casa de madeira, de alvenaria,  de palha, sem casa, desquitada, viúva, casada, amante, solteira,de todas as idades, na faixa dos 80, na faixa das 40, na faixa dos 20, na faixa dos 10, na faixa dos 5. Todas mulheres. Todas das mais diversas personalidades, menina faceira, "mariazinha e zefinha saló", cajazeiras, introvertidas, conservadora, cristã superticiosa. Tinha cabelos grisalhos, ruivas, desbotado, amarelo, preto.Era uma verdadeira concentração de estrogênio, que exalava por toda a casa, os ciclos se cruzavam e a tpm também. Era icônico ver todas reunidas falando mal dos homens da família, e das mulheres que não se enturmavam, ou dos antigos vizinhos. Fui criada numa casa cheia de pequenos cômodos, que lembravam um absorvente gigante, calorento, úmido, absorvendo suor, sangue e lágrimas. Lá em casa nunca teve essa de que é o homem que bota moral, a mulherada arrasava em ser Pinochet também, em ser firme, em engolir o choro e arregaçar as mangas, em trabalhar, costurar, pintar, escrever, desenhar e tantas outras atividades que me fogem a memória. Tinha a merenda, o lanche, o café, a abóbora com arroz, arroz com manga, feijão e farinha, cuscuz, cozidão com batata, Não dava nem tempo de se sentir sozinha. Tinha Amélia, Maria Bonita,  zangada, barraqueira, humilde, arrogante. Um comboio de mulheres.

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