sexta-feira, 29 de maio de 2015

O grande mentecapto (ou sobre as múltiplas facetas de ser Eu, eu mesma e Ivila)

Tem gente que julga, a grosso modo, que chegaremos à vida adulta sem muitas alterações no modo de pensar e ver a vida, como se fossêmos papeis limpos saídos da resma, como se a originalidade fosse uma obrigação que nos mantém longe da vulgaridade e banalidade que a vida tem se tornado. Olhando em retrospecto, vejo que muitos tiveram expectativas em mim, e de quando em vez vociferam que eu mudei, para mim soa como um elogio, penso eu, de que teria valido tantos anos de leituras, de músicas, de horas nos teatros, de horas de afinco conversando e socializando idéias com amigos e a família. É banal, meu caro. Agora eu entendo o que quer dizer pés no chão, não apenas por ter me tornado mãe, não apenas por casar, não apenas por me preocupar com coisas que realmente pesam e preocupam, mais do que o noticiário na TV, ou a prova da semana que vem , e, que as vezes se equipara a síndrome de Atlas. Mas não somos mais os mesmos, não devemos  ser, não devemos jogar fora tudo o que conseguimos compreender, admiramos e deixamos de admirar, é crescimento.  As vezes regresso também. Todo esse saudosismo de que “no meu tempo era melhor”, tudo isso é equívoco, temos de seguir em frente. A verdade é que, historicamente,  estamos fadados a avanços e retrocessos, vivências que jamais poderão ser apagadas. Também é verdade que alguns vão com raiva da gente, outros vão com angústia, outros com saudades, outros mortos, outros simplesmente desaparecem no tempo e algumas vezes a vida nos permite que lembremo-nos remotamente de sua existência, só pra dar aquele sorriso no rosto e pensar que foi legal um dia, mas que hoje a vida anda a passos largos. Não devemos ceder ao instinto de rasgar nossas vestes e sair procurando a presa que não consegue escapar de nossas palavras, de nossos gestos mais brutais e vingativos. Ainda não somos civilizados, nem modernos, nem evoluídos. Apenas somos e estamos.

(Ps1.:Usando indiscriminadamente o título do livro do Fernando Sabino como título da minha postagem)
(Ps2.: Crétidos da imagem: Desenho de Thiago Ramos de França e foto de Denis Araújo)

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