segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dias de

Era um dia frio, mas não aqueles dias habituais, em que os pés ou as mãos congelam, era um frio interno, daqueles que congelam a alma, que te deixa em um estado de inércia, sem saber se é o clima que te faz isso, ou se é você que se afasta do mundo, pra viver sua própria solidão, causada por esse frio intenso, igual ás chuvas, que deixa uma marca de tristeza, que molha as ruas ,as casas, as pessoas, as vidas.Pra algumas pessoas é lavagem de alma, mas pra outras ,cai aquela lama, que deixa tudo impregnado de folhas, de tudo aquilo que foi deixado pra trás, por alguém que não se deteve ao espalhar tudo pelo chão, que não lembrou que entupiria o bueiro de alguém, ou que daria trabalho pra limpar toda essa poeira que foi acalmada pela chuva, que deixou rastros e frio, muito frio, muito vento, muita ausência,que não se sabe de quê ou de quem, ou de qual, ou ao menos quando.E fica aquele vazio, de quando não se espera visita, porque tudo ficou inundado, e não há mais passagem, nem de ida e nem de volta, e você se prende a mais nada, sabendo que o nada não existe, mas é tudo que te resta, o nada.E você chega a viciar em estar nesse frio, que se esquece que o calor é bom, que ele te faz mais companhia que os dias de conversas inúteis e aparentemente confortantes, mas que no fim não passam de retórica, que te acalma momentaneamente, e depois retorna ao vazio inicial, e quando enfim passa esses dias, você descobre que era verão, que nunca tinha deixado de ser, e era só você que tinha congelado, parado no tempo, na alma, na chuva, no frio, mesmo fazendo calor, era essa a sensação que tinha, que nem o sol mais escaldante das três horas da tarde do dia mais quente não me faria sentir de volta a sensação de companhia em dias de sol, que aquele dia teria contínuas provocações, de sensações, de frio.

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