quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Da série: poetas da solidão e dos [des]amores. PARTE 2

Mário Quintana era filho de Celso de Oliveira Quintana e de Virgínia de Miranda, fez as primeiras letras em sua cidade natal, mudando-se em 1919 para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Militar, publicando ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo, quando esta ainda era uma instituição eminentemente gaúcha, e depois nafarmácia paterna.
Considerado o "poeta das coisas simples", com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela perfeição técnica, ele trabalhou como jornalista quase toda a sua vida. Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal, entre elas Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, Mrs Dalloway de Virginia Woolf, e Palavras e Sangue, de Giovanni Papini.
Em 1953, Quintana trabalhou no jornal Correio do Povo, como colunista da página de cultura, que saía aossábados, e em 1977 saiu do jornal.
Em 1940, ele lançou o seu primeiro livro de poesias, A Rua dos Cataventos, iniciando a sua carreira de poeta, escritor e autor infantil. Em1966, foi publicada a sua Antologia Poética, com sessenta poemas, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e lançada para comemorar seus sessenta anos de idade, sendo por esta razão o poeta saudado na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer eManuel Bandeira, que recita o poema Quintanares, de sua autoria, em homenagem ao colega gaúcho. No mesmo ano ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de Escritores de melhor livro do ano. Em 1976, ao completar setenta anos, recebeu a medalha Negrinho do Pastoreio do governo do estado do Rio Grande do Sul. Em 1980 recebeu o prêmio Machado de Assis, da ABL, pelo conjunto da obra.

Oh ! aquele menininho que dizia
"Fessora, eu posso ir lá fora?"
mas apenas ficava um momento
bebendo o vento azul ...
Agora não preciso pedir licença
a ninguém.
Mesmo porque não existe paisagem
lá fora: somente cimento.
O vento não mais me fareja a face
como um cão amigo ...
Mais o azul irreversivel persiste em meus olhos.
 

Da série: poetas da solidão e dos [des]amores.

Poeta essencialmente lírico, também conhecido como "poetinha"[3], apelido que lhe teria atribuido Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida e suas esposas foram, respectivamente: Beatriz Azevedo de Melo (mais conhecida como Tati de Moraes), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria (a Martita) e Gilda de Queirós Mattoso.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto,Chico Buarque e Carlos Lyra.

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar 
                                                                     [ extático da aurora.

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e   prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pois é, então fica o dito e o redito por não dito

Eu nem queria ser tão repetitiva
Mas a gente vive, revive e as vezes ate sente um dejavú
E acha que andar sozinho é trágico, mas pensando bem
Nem é, porque a vida segue, as pessoas egoísticamente seguem seu rumo em busca daquilo que acha que os tornará mais felizes e completos, provavelmente as paixões são as que mais arrancam as pessoas de nós
E jogam o mais longe possível
Porque as pessoas são mesmo assim, orfãos das situações
Eu queria insistentemente acreditar que estamos "juntos nessa", mas não, não estamos, estamos em lados opostos e a tendência é piorar, então tudo o que falamos se esvai como um vento de inverno, frio e seco.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

I Encontro de Mídia Alternativa de Imperatriz

Nos dias 28 e 29 de novembro ocorrerá o I Encontro de Mídia Alternativa de Imperatriz com o tema
Mídia alternativa e intercâmbio cultural:
Produção e acesso aos bens materiais e imateriais
 Haverá  Mesas redondas a partir das 20 horas no auditório com os temas

Dia 28/11 - Produção e acesso às mídias alternativas: o fanzine como espaço democrático
Dia 29/11 - As possibilidades das produções independentes – o fazer acontecer

O evento também contará com a exposição de fanzines durante todo o dia a partir das 8h da manha
com materiais de Imperatriz e várias outras cidades do Brasil

A inscrição custará 5 reais e será feito dia 28 (segunda) durante o dia em frente ao Diretório Central dos Estudantes
com certificado de 20h

Participem e tragam suas idéias

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Trecho

- E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? - perguntou.
      Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.
- Toda a vida - disse.

(O amor nos tempos do cólera - Gabriel Garcia Marquez)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O c* adormecido da putinha atormentada

Ela diz que o dela não quer mais dar
Que quer melhorar de vida ou  sair dela, que assim não dá
Veio do interior, porque sulistas, nordeste é interior e o sul/sudeste é "Capitar"
No seu ponto de trabalho faz o serviço pesado de amar desconhecidos
De engolir seus murros, seu pau, e suas sandices
Quer cuidar dos 5 irmãos e dos 3 filhos
Poder letrar sua família
Diz que é digna de casar, ama também alguns clientes
mas o seu serviço preferido é gritar
Gritar porque liberta, quando goza e quando chora, só sabe gritar
Porque seu grito é esganiçado de brasileira solitária
no presídio de seu quarto cuida dos catarros, assopros, e diárreias familiares
Pula o carnaval, curte o circo e namora na internet
Fode ao vivo e ama a distância
pobre prostituída pelas forças acolhedoras da mão-de-obra barata
sua mão acalenta muitos solitários também
essa mulher é digna sim,
aprende mais que mil deputados a ter dignidade, é que todos dias
escolhe entre passar fome e dar seu bem maior
e eles escolhem em comer esse bem e ainda foder nossas vidas
é, a putinha ta com o c* apertadinho, mas só de medo de morrer no frio ou de fome em alguma rua lamaçenta.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O ano que foi os 80

Echo, Iggy, Jesus and Mary Chain, Mighty Lemon Drops!“Micky Dolenz”! Big Country, Lloyd Cole & The Commotions, Joy Division, Clash, Smiths, Tocando no Flu! TUDO! “Clara Crocodilo”, Espaço Aberto, Satisfaction, Revolution, Pelos porões do rock, Rock Alive. Modern Soud, Billboard.Selma Vieira. Luís Antonio Mello. Circo Voador!!! Raul vendendo bottons de John Lennon na faculdade.Yes Brasil, Company, Dimpus, Smuggler, Fiorucci, cores fortes, vivas, alegres, Pink, brincos pastilha, calças-carpinteiro, sapatinho de boneca com velcro, espadrilles, azul Royal, perfume Azzaro, bermuda da Dimpus, mochila da Company, mochila jeans! MOCHILA! Começou naquele ano! De jeans, então , totalmente inusitado! Camisa pólo da Company. Sandália Melissa de plástico leitoso. O 433. João Gonzales – que fim levou? Qualé, seu guarda, que papo careta, só to tirando chinfra com a minha lambreta. US Festival, Teatro da Praia – “You grow up and you calm down, you’re working for the clampdown”!!! Christiane F., o livro, Christiane F., o filme, no Ryan, avenida Atlântica. A História de O. EU tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim. Legião apresentando a nova “Eduardo e Mônica”, no Canecão. Porcos Com Asas. Minissaia, sempre. Biquini asa delta. Batom rosa. Mangas da blusa enroladinha, brincos grandes, brincos de argola. Umberto Eco. Stray Cats no Brasil – ah-se-arrependimento-matasse. Feira no Rio é lindo. Hail, hail Rock’n’Roll no Fashion Mall”. ET, de minissaia; Christine de calça comprida e perseguição. Os anjos chamam mais a teimosia é mais forte. Housemartins, Três acordes, módulo covardia, Magic Bus, Guitarras.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Negro Boêmio

Olha como ele anda, esse moço é bossa
Olha o seu gingado, esse moço é bossa nova
Olha seu cabelo arrumadinho, esse moço é malandro
Sinta como ele tá cheiroso, esse moço ta tentando
levar as meninas ao delírio
olha como ele se mexe, olha como ele olha
esse moço ta me levando pro caminho do mal
eu to desejando aquele moço
com aquele samba, com aquele gingado, de homem fogoso e de pano passado
Aquele moço é la da rua, anda nos bares e é da boemia, esse moço conquista

Quando ele quer, tem ao seus pés mais de 10
Sente prazer em conquistar as moças sadias
Gosta de brincar com a cara das vadias
Brinda nas madrugadas com copo americano
Lambe até o gargalo pra gente rir com seus encantos

Esse moço ta me tentando, tá me seduzindo,
será que ele não sabe que eu sou moça de família?
Será que não sabe que com ele eu casaria?
Daria filhos e filhas e seria a rainha do lar
Por ele deixaria a vontade de voar
Será seu moço que você deixaria a boemia
Se um dia em meus braços descobrisse agonia
de viver só a dois, e morar um no outro?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pensamentos do dia (aleatórios)



"É muita moral pra pouca ética."

"O oposto da saudade é o desespero."

"Sou o oposto das minhas convicções"

"Só a cabecinha... mas seu moço , o senhor não tem ombro"

"Nossa guerra diária é nos contradizer."


domingo, 11 de setembro de 2011

Eu nem sei como explicar...


Que me desculpe amor , pelas juras apocalípticas de amor, esse desastre que é se entregar, o extremo de largar-se sem medo. Mas eu sou parasita do meu conforto, dos meus desejos, vivo em função de momentos felizes. Desculpa por citar teu nome aos quatro ventos sem lembrar que todos podem ler. Eu nunca quis ser perfeita. Sou o “gene egoísta”, o “demasiado humano”, que corre todo dia atrás de um precipício sem fim. Você não se apaixonou por aquela pessoa porque ela gosta das mesmas músicas, filmes e livros que você, vocÊ se apaixonou por ela porque essa pessoa não correspondeu ao seu olhar, não te deu um sorriso quando passou, porque somos assim, queremos  aquilo que é improvável de acontecer, nos não amamos a pessoa em si, amamos nosso ego machucado. Crescendo e parando de acreditar nos filmes hollywoodianos e nas novelas de Manoel Carlos. Aquele amor nunca voltou, nunca reencontrei aquela pessoa que jurava que ainda tínhamos muito a conversar, nunca tive coragem de crescer, de correr e de dizer de verdade aquilo que queria. Sim, eu abri mão várias vezes de quem ou aquilo que queria, pode me chamar de covarde, mas procuramos nosso conforto diário, dormir encostada em um travesseiro de pedra é demais desconfortante, sofrer por uma distância não só de corpos mas de mente. Não saber o que se passa e não saber o que se esconde por detrás dessas mil máscaras que usamos em nosso dia a dia, colocando a culpa de nossa frieza sempre em nossos desamores, quando nos mesmos elaboramos nossa crueldade diária. Éramos bons ou sempre tivemos guardados essa maldade.Queremos todos os dias egoisticamente ser felizes.  Nem sempre nossa felicidade está no lugar mais baixo de ser alcançado.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Coisas que aprendi com alguns ‘homens’ nesses últimos dias.


Mulheres, vocês são um pedaço gordo e suculento de carne
Portanto, sua função é deixar-se ser comida, sem interrupções sem funções práticas como conversar, falar do que lhes interessam e outras banalidades, deixem-se ser vistas nuas e apalpadas pelo primeiro cara que lhe der essa “autonomia”.
Nos ensinam que maniqueísmo é uma besteira, que seremos comida pelos caras com o mesmo olhar, trepar, fuder, tranzar, tudo tem o mesmo sentido, portanto abram as pernas destemidamente, e deixem-se ser penetradas, você nem precisa conhecer o cara.
Mas lembrem-se, na hora de escolherem suas namoradas e esposas vocês povavelmente não servirão pois estão um pouco usadas.
Provavelmente se você trai ou já traiu o namorado, é uma puta, vadia e sem vergonha sem sentimentos que não merece jamais ser perdoada. Se for traída, perdoe, “homem é assim mesmo, é instinto”. Dê o braço a torcer ,“ele te ama”
Bundas e peitos foram feitos para serem apreciados, por qualquer pessoa que passa na rua, se você não corresponder é metida e se acha muita coisa. Gostosa, tesuda e bucetuda são apelidos carinhosos que merecem respeito, seja por qualquer homem.
Portanto mulheres, pra que guardar-se pra poucos ou um homem apenas se você servirá em um churrasco pra mais de mil? Depois ele palitará os dentes e arrotará em sua cara.

domingo, 4 de setembro de 2011

Você subverteu e transformou em banalidade tudo o que era sentir
Mudou essa sensação que era tão deliciosa de sentir e transformar todo e qualquer encontro
Tive de pular as fases dos flertes e ir direto pra saudade que é pra onde vão as coisas do baú sentimental
Criei os meus versos mais obscuros homenageando esse desamor
Trocando soliloquios com o vento
Perdi a razão diversas vezes em um grito esganiçado que so queria te dizer que
tudo seria tão diferente se você não tivesse apressado tudo e deixado pra segunda opção
Tudo o que era importante pra que tivessemos construído o "nós" e não o "eu e você"
Agora me fala de ego atingido, e eu falo de um corpo alterado que procurou o teu e so achou um
vazio enorme. Beijos e abraços eu acho em qualquer lugar, o que eu queria era mais, bem mais.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Amarelo Manga"

"Das artimanhas da traição à arte de perder a confiança"
Complicado tratar as pessoas como puras e imultáveis, olhar e dizer "Como você mudou!!"
Dá vontade de responder "Queria que eu estagnasse?"
Viver é preciso, seguir em frente também, viver nesse maniqueísmo de dizer quem mudou pra melhor
e quem mudou pra pior é viver numa conturbação muito pessoal, nem canonizar e nem amaldiçoar
"Só não muda de ideias que não as tem" cai no maior lugar-comum da historia da escrita e vice-versa. Assistindo Amarelo Manga ,  no "cinema no teatro", percebi o quanto somos maleáveis e sujeitos a modificações extremas, no que tange a sobrevivência e o ego ferido qualquer coisa valerá a pena. É que a verdade, a verdade dói, mas precisamos desse extremo, mentir para sobreviver e ouvir a verdade para continuar.

Caio Fernando Abreu

Por incrível que pareça, ele não escreveu livro sobre máximas e reflexões (piadinha cachorra), costumeiramente as "frases" dele ganhou um amplo espaço através de um copia e cola e na internet, e não, ele não escreveu apenas Morangos Mofados, houve também, diversos outros livros, cartas, obras para teatro, etc, etc.
Aqui vai as obras dele, que voce pode procurar pra baixar em pdf, comprar os livros, enfim, parar de ir no "O Pensador" e conhecer mais sobre o que ele escreveu:

  • Semana de Artes Modernas
  • Inventário do Irremediável, contos;
  • Limite Branco, [[comedia];
  • O Ovo Apunhalado, contos;
  • Pedras de Calcutá, contos;
  • Morangos Mofados, contos;
  • Triângulo das Águas, novelas;
  • As Frangas, novela infanto-juvenil;
  • Os Dragões não conhecem o Paraíso, contos;
  • A Maldição do Vale Negro, peça teatral;
  • Onde Andará Dulce Veiga?, romance;
  • Bien loin de Marienbad, novela;
  • Ovelhas Negras, contos;
  • Mel & Girassóis, antologia;
  • Estranhos Estrangeiros, contos;
  • Pequenas Epifanias, crônicas;
  • Teatro Completo;
  • Cartas, correspondência;
  • I Draghi non conoscono il Paradiso, contos;
  • Pra sempre teu, Caio F.

Indicações filmicas - Trilogia da Vingança

Oldboy, filme lançado em 2003 é o segundo da trilogia da vingança

Lady Vingança, filme lançado em 2005 , segundo da trilogia da vingança

Simpatia pelo Senhor Vingança, lançado em 2002, primeiro da trilogia da vingança

Trilogia da Vingança do diretor Chan-wook Park

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Antro da imagem, Helemento Qarbono e Rádio Ressurreição


(Gênese do Universo imagético da Agenda Poética Marginal)
Eu me lembro...
     Já se passaram cinco anos desde o nosso último encontro, quando era então lançado o segundo número da Agenda Poética Marginal. De lá pra cá algumas coisas mudaram, como a decisão de migrar para as artes plásticas, com a criação de uma oficina paralela de artes visuais que optei em chamar de “Antro da Imagem”.
     Também surgiu a necessidade de mudar o nome da logomarca que, de Carbono 14 passa agora a se chamar “Oficina Carbono” ampliando assim o leque de opções de trabalhos visuais que receberão a minha assinatura (Antro da Imagem). Nesse momento a Agenda Poética Marginal – Rádio Ressurreição surge como um divisor de águas. Somente agora vão emergir novos trabalhos, agregando outras propostas visuais, outros valores plásticos e explorando a plasticidade de objetos ímpares, como lamparinas e artefatos de cerâmica.
     Juntando tudo isso, surge uma loja híbrida de opções diversas, juntando serigrafia, quadrinhos e artes plásticas, um desejo antigo que era agrupar o que eu já desenvolvia (camisetas, agendas e cartazes) com novos produtos atrelados a uma nova pesquisa visual fundamentada em objetos de arte e decoração, tendo como base a originalidade dos desenhos aplicados em tais objetos.  Junto a essa idéia, é provável que também se instale uma gibiteca, divulgando o mundo dos quadrinhos, a princípio com uma tímida intenção, devido ao acervo ainda ser mínimo.
     O desejo de se fazer uma incursão na área das artes plásticas é antigo, pois apesar de nunca ter exposto meus desenhos fora do campo serigráfico (camisetas e cartazes) foi se formando um arquivo de peças e desenhos, construindo então um acervo iconográfico que, com a constante criação e acumulação de figuras, me obriga a criar uma oficina paralela que, por brincar com a variedade e a amplidão de desenhos, chamo de “Antro da Imagem”.
     Em meio a esse ambiente de mudanças, percebo a existência das “Janelas Empoeiradas”, sobre quem falaremos um pouco mais adiante. Foi abrindo tais janelas que tive acesso aos insight´s, às lembranças guardadas pela memória e adormecidas pelo tempo, como em processo letárgico, de torpor, de hibernação. É desse ambiente que surge o nome “Rádio Ressurreição” que também abordaremos mais adiante explicando o porquê.
     Junto à Rádio Ressurreição surgem outras lembranças, outros nomes, como uma instalação que se chamará “Subterrânea” e que somente ganhará vida material futuramente (?) na minha primeira exposição individual. “Subterrânea” é uma peça de beleza exótica, atípica e de forte identidade, com ar introspectivo.
     É também neste momento que surge o Helemento Qarbono, um profeta imaginário, pedindo a dádiva da fala, da expressão oral, do grito. E como fala! E como grita essa criatura!! (gritos internos são os mais audíveis).
     A inserção dessa figura só é permitida agora, pois há tempos já se queria apresentá-lo, só que ele ainda não tinha muito o que dizer e, portanto, pra não contrariar o provérbio oriental  que valoriza a importância das palavras, optamos pelo seu silêncio. Somente agora essa criatura recebe o dom da fala e vem nos dar o ar da graça!
     Pois é! Jacques Cousteau, mas chegou! E sem que se perceba a gente se encontra pra uma outra folia! Brincando, brincando, já estamos na terceira edição da Agenda Poética Marginal e, sabendo que nenhum caminho é linear, como diria o Helemento Qarbono, sabe lá quando será a quarta edição!! Mas vamos deixar o tempo com os relógios, o futuro com os profetas e o hoje com  Horácio (Carpe Diem ! – Aproveita o dia!)
     Voltando à agenda, sou suspeito para tecer comentários a respeito da criação, da gênese desse trabalho, pois convivo integralmente com ela, em toda a extensão da palavra, da sensação à materialização, do desejo etéreo ao objeto concreto.
     Como havia dito, eu sou suspeito, porém acho que sou a pessoa mais indicada pra traçar em miúdos algumas coisas “Intro” e específicas que ajudarão a compreender este ambiente que formou e construiu a sua personalidade.
     Pra começar, são três as palavras – chave que servem de suporte para se conhecer, compreender a agenda. As palavras são:  Atemporal, Singular e Cosmopolita.
     Optei pelo conceito destas três palavras pra tentar definir e sintetizar a agenda a partir deste princípio. Então, como diria o esquartejador, vamos por partes:
     Atemporal, por não respeitar o tempo, resgatando de ontem a palavra que se mantém viva e significativa hoje, como as frases de Gandhi, Baudelaire e Luther King, tornando os seus pensamentos blindados contra a voracidade do tempo.
     O resgate da ideologia marginal se plasma com o ideário da agenda, que tem na brevidade da palavra a sua espinha dorsal e o seu “modus operandi” incorporando elementos que se fundem com a filosofia marginal, usando frases curtas e breves, como os hai-kais japoneses. Tal postura mantém a palavra sempre jovem, desrespeitando o padrão estabelecido, a métrica, com textos que contrariam o tempo, negando-se a envelhecer, como o estigma da literatura ou a síndrome de Peter Pan. Isso é ser atemporal.
     Singular pela unicidade de sua história, de seu grito silencioso, pela persistência em manter-se viva diante a tantos obstáculos, onde tudo desaguava em um provável silenciamento. A sua trajetória não-linear, sua postura avessa, sua verve, sua acidez; sua rebeldia cirúrgica contra a alienação e sua eterna desobediência a tudo que é disciplinador e normativo. Essa é a sua alma marginal, fazendo disso a sua condição singular. Tal postura lhe outorga esse conceito, forjando então a sua personalidade única.
     Cosmopolita pela sua visão global e local. Por beber em várias fontes. Macro e Micro agrupados pelo viés da palavra e acessados pelo estopim da imagem. Singular e Plural.“Aldeias e Pólis”. Tolstoi nos diz que só seremos universais se conhecermos e amarmos a nossa aldeia. A condição cosmopolita (vários lugares em um só lugar) está presente em todas as artérias da agenda, traduzindo olhares de vários espaços, juntando gente de vários lugares, onde cada cultura, cada expressão, cada aldeia é respeitada, mesmo sob a ótica de quem a agrupa. Ser cosmopolita é uma viagem! Fernando Pessoa, esse poeta de várias faces e muitos heterônimos que me desculpe, mas “viajar sem rumo é preciso!” (Helemento Qarbono)
     Fechando “ser cosmopolita” com Fernando Pessoa e Helemento Qarbono tá ótimo! Isso sim, que é “ser” cosmopolita. Conhecer, respeitar e aceitar sob a ótica da complexidade. Administre o caos antes que o caos administre você! Define-se a síntese, estabelecendo então a sua ultima condição, expondo o seu “jeito cosmopolitano de ser”.
    Caramba!! Quanta coisa dita e ainda tanto a se dizer! Pra quem pensava que Ela era só bonitinha se enganou! Como diria o profeta de rua  Caetano Emanuel  Telles Veloso, “de perto ninguém é normal”. Eu já digo é que rapadura é doce, mas não é mole! O Helemento Qarbono, outro profeta de rua, me disse que Ela (a agenda) é bonitinha, mas ordinária.
     Agradeço a todos pela paciência em tentar destrinchar a cara e a alma dessa criatura, navegando juntos por águas nunca d´antes navegadas. Esta é um pouco da história da agenda, que às vezes se plasma com a história de seu criador.
     O Helemento Qarbono é um pseudônimo, um profeta de rua imaginário que me encantou, me deixou boquiaberto com suas frases básicas, hiper-compactas, lacônicas, profundas e apaixonantes. Dele sim vocês podem dizer:  - Você não existe! ... E não existe mesmo! Ele é um fragmento de sonho, que de tanto desejar falar, acabou se fazendo matéria. Ele sim, se plasma com a agenda e transita livremente pelas condições de atemporal, singular e cosmopolita. Ele é talvez a síntese auto-biográfica de todos os meus trabalhos, uma espécie de “TUDO–AO – MESMO - AGORA ”. Um tipo de raptor de imagens, que as devora e as transforma em registro gráfico-social-imagético.
     Fico imensamente feliz pelo seu resgate, pelo seu surgimento junto a “Radio Ressurreição”, se unindo, se plasmando e formando um todo, que é a Agenda Poética Marginal.
     A agenda é um trabalho desafiador, que cobra de mim uma atenção integral, uma dedicação intensa, desde a escolha e construção da capa até a concepção do conteúdo interno, como a associação de uma ilustração com a frase.
     Espero que gostem desta nova versão, pois fechei os olhos e mergulhei de cabeça na esperança de tentar reproduzir na íntegra o que eu esperava que ela fosse. E ela foi! E ela é!!
     Lembrando que este texto não é linear. Aqui nada é cronológico. Procure evitar ligações com espaço-tempo-narrador. O que se lê aqui são insight´s, fragmentos de tempo e ações isoladas no espaço que deram corpo a uma colcha de tecido multicolorida que se chama VIDA, ou simplesmente, se assim preferirem, AGENDA POÉTICA MARGINAL.


Helemento Qarbono      




Algumas palavras sobre outras palavras
(Surge a Rádio Ressurreição)

     Eu gosto de palavras e ainda mais do que se pode fazer com elas. Alterá-las, recriá-las, implodí-las, fazê-las aos pedaços revelando assim sua amplidão. Tocá-las, rasgá-las ao meio como uma espécie de alquimia oral em constante movimento, fazendo da fala um organismo vivo e mutante. Eu respeito e admiro a palavra e a força que ela tem em impor o seu significado, em provocar sensações mil e também pela condição de ser breve, compacta e lacônica (É isso e pronto!!).
     Palavras são sinestésicas. Causam emoção. Respondem ao toque. A palavra sono dá sono. A palavra saudade faz chorar. A palavra amigo faz sorrir. Palavras como viajar e navegar libertam e a palavra  obedecer aprisiona.
     Tenho predileção por palavras de sílabas fortes e conceitos orgânicos, pela beleza da silábica e pela perfeição da ressonância, como Catraca, Jenipapo, Araçá, Cajuí e Tataíra. Também tenho a estranha mania de criar nomes, como por exemplo: Infectografia, Objeto Andrômeda, Agenda Poética Marginal, Helemento Qarbono, Mortalha Metálica, Aldeia Primal, Antro da Imagem,Ponto Matrix e Centelha de Fogo.
     Acho belas palavras estranhas e exóticas, aliás, tudo que se apresenta estranho exala exoticidade e tem uma beleza particular e “Intro”, como Germinal, Maíra, Aeroplano, Katsuhiro Otomo, Perséfone, Pangéia, Cosmogonia e Akira. Também acho bacana palavras com consoantes mudas como Assepsia, Cápsula, Obsoleto e Autópsia.
     Frutas como Ingá, peixes como Carí e aves como Pipira são palavras que fazem parte do meu universo primal e até hoje eu as guardo na retina e no coração. A palavra define, identifica e separa, ela agrupa, diagnostica, conduz e é conduzida; estabelece e norteia faz absorver e é absorvida. A palavra se enclausura em si mesmo e ao mesmo tempo se expande aos outros, apresentando novos mundos e macro universos; se plasma com o seu criador, mas ao mesmo tempo independe dele, agitando sua bandeira de independência e de total autonomia. Ela sim, é o fio condutor da história.
     ... E pensar que tudo isso que foi dito é somente para falar da Rádio Ressurreição, ou melhor, pra abrir campo pra tentar esmiuçar essa palavra que soa como um enigma, um nome composto por duas palavras que, isoladas tem suas múltiplas significações e agrupadas então, adquirem trocentas leituras.
     Pra explicar o porquê do nome e como se deu sua aparição, tenho que rememorar o episódio de cinco anos atrás.
     Tudo começou em uma das muitas viagens em que eu ia expor meus trabalhos gráficos, acompanhado por alunos do curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Saímos de Imperatriz com destino a uma outra cidade do Nordeste que não lembro o nome (Natal, Fortaleza, Recife ou João Pessoa??). O ônibus rasgava o sertão revelando na janela paisagens únicas, onde se via pequenas vilas, árvores dispersas e rochas. A vegetação se apresentava rasteira na maioria dos espaços. Era 06:40  da manhã, mas como na maioria das cidades nordestinas, o sol já se fazia presente. Foi nesse momento que o ônibus passou por um pequeno povoado incrustado na base de uma montanha. Foi então que vi a imagem que me acompanharia até hoje, onipresente, constante, convidativa e ao mesmo tempo sem opção de acesso. Uma pergunta que não quer calar. Caramba! Quanto mistério! Mas não, eu não vi um disco voador (Apesar de adorar ficção!). O que vi, era uma placa enferrujada, pregada a uma peça de madeira quase caída, deixando a placa em posição diagonal. Percebia-se a madeira bastante envelhecida pela tonalidade de cinza-claro. Apesar de bastante oxidada, carcomida pela ferrugem, dava pra se ler o que havia escrito na placa, e lá estava ela, a palavra “Rádio Ressurreição”. Então veio o choque, o deslumbre! Em fração de segundos comecei a “escanear” todo o resto da imagem, e faço aqui uma descrição fiel: Atrás da placa semi-caída havia uma construção em ruínas. O telhado já não existia, apresentava apenas falhas peças de madeira (tesouras e caibros) que davam sustentação à estrutura do que era para ser um telhado. As paredes carcomidas pela erosão estavam cobertas de limo, com grandes rachaduras que deixavam à mostra tijolos do tipo “Adobe”. Fechaduras, trincas e ferrolhos, peças de metal oxidadas pelo tempo e pela intempérie. O local da cena ficava em uma parte isolada do pequeno povoado, fazendo disso maior a sua condição de abandono e estagnação. Em meio a tudo isso, lá estava ela, resistindo silenciosamente a tudo e emitindo, irradiando a sua vontade: Radio Ressurreição! Estranho pra vocês e mais estranho ainda para mim.
     Como o ônibus estava numa subida, desenvolvia uma velocidade baixa, o que me deu tempo para “fotografar” na retina esta imagem e fazer varredura do local. O Ônibus seguia o seu trajeto, deixando pra trás um episódio com característica surreal – Rádio Ressurreição...
     A história começa agora! O que mais me chamou a atenção nessa cena foi a condição de associá-la a uma metáfora visual. Uma palavra que se rebela contra a matéria e se opõe poeticamente ao contexto material ao qual está inserida, lembrando, nos anos 60 uma flor depositada no cano de um fuzil.
     Sua desobediência pacifista dava voz à mensagem, e era como se a palavra falasse ao seu agressor: “Devore-me, mas irei renascer, mate-me, mas eu irei ressurgir.” Era um contraste gritante. Quando inicei este texto dizendo que respeito palavras e sua capacidade de se impor e de provocar sensações mil, eu estava me reportando a esse momento.
     A placa com a palavra pedia vida, e a construção, no seu isolamento, me mostrava torpor, letragia e estagnação. Impotência. Eu absorvi aquela imagem e segui mastigando, ruminando aquela metáfora visual. O õnibus se preciptava no mundo. O dia-a-dia e a ordem natural das coisas se encarregariam de apagar aquela visão, mas coube às janelas empoeiradas capturar e arquivar aquela imagem. Depois de muito tempo, a vontade era de se construir um texto para ficar somente comigo, relatando esse acontecimento, mas isso seria a mais completa forma de ciúme. Foi aí que senti a vontade de juntar algumas coisas já ditas pelo Helemento Qarbono e partir para uma nova edição da agenda poética marginal.
     É exatamente nesse momento que me apaixono pela palavra Rádio Ressurreição e começo a fazer analogias em relação ao meu trabalho. Como eu estava vivendo uma espécie de “ócio criativo” a palavra foi o estopim que fez com que eu começasse a esboçar, desenhar e projetar visualmente a nova agenda. Acho que foi tudo muito rápido (a decisão). Foi mais ou menos assim: “Rádio Ressurreição” Rádio - recebe e emite ondas. Decodifica Transforma em linguagem. Emite informações, recebe sinais.
     Ressurreição – ressurgir, renascer, acordar, renovar, recomeçar...
     Era isso !! Então eu falei: Caramba! É isso! É isso que eu quero agora!!
     AGENDA POÉTICA MARGINAL – RÁDIO RESSURREIÇÃO!
     Um lugar que, por não lembrar onde fica, torna-se imaginário, mas que eu registrei na retina e edifiquei com as palavras, dando-lhe uma condição concreta e substancial.
      ...Mas a pergunta não quer calar! O que seria então a Rádio Ressurreição? Uma rádio comunitária desativada há muito, muito tempo? Um sistema primitivo de comunicação do povoado? Uma estrutura com finalidade religiosa?
      Eu só sei que ela (a palavra) estava lá! Impondo a sua vontade, seu desejo fértil de brotar em meio a um ambiente ermo e inóspido. Entre todos os elementos que formavam aquela cena (ruínas - desolação) a palavra Rádio Ressurreição era a única que não aceitava a sua condição, a partir do momento que transforma um símbolo visual (palavra) em desejo (ressurgir, irradiar, propagar, renascer).
     Talvez tenha sido por isso que desencadeei uma verdadeira fascinação pela palavra, que acabou se entranhando na minha pele, na minha respiração e na minha fala. Aquela sensação visual explodiu na minha cabeça naquele dia com a mesma intensidade de uma bomba de efeito retardado, onde somente agora revela os seus cacos, seus estilhaços em forma de fala e imagem, se materializando em uma agenda. Somente depois de cinco anos começo a fazer ligações, analogias, um pequeno olhar que abriu um canal para uma ideia complexa.
      E tudo por causa de uma palavra. Silenciosa e irônica ao extremo. Pessoas silenciosas são interessantes! Lá estava ela, uma flor no deserto, uma rosa de cor vermelho-escarlate nascendo, brotando nas reentrâncias de uma rocha, pedindo vida, resistindo à verdade alheia, duvidando do que é imposto.
     Então eu fui convidado a pensar: Desconfie dos heróis, dos ícones. Eu só acredito no conhecimento quando se pode rasgá-lo ao meio, duvidando de sua totalidade, com a possibilidade de alterar sua forma concreta e ideológica. Aquela placa poderia ser você?? O que simbolicamente te oprime? Viva todo o conhecimento gerado do erro, pois se não sabem, viver é errar! Eu prefiro acreditar em um erro do que em uma pessoa!
      E foi assim que a palavra se fez verbo, o verbo se fez vontade e a vontade se consubstanciou em coragem pra fazer brotar este trabalho. A palavra Rádio Ressurreição entra para a história da minha vida, me infeccionando, se alastrando, me fazendo crer que renovar sempre é provável e que renascer sempre é possível. Cuidado com os heróis, com os que nunca erram, com os quadros renascentistas, limpíssimos e belos. Cuidado com a perfeição que aliena, com a beleza que sempre se apresenta antes do conteúdo. A Agenda Poética Marginal é bela, mas é fruto de atropelos mil, como uma flor nascida da lama ou do lôdo. Se quiserem, podem me chamar de senhor-desatre, eu entederia e aceitaria.
     No retorno daquela viagem voltei com a esperança de reencontrar aquele lugar enigmático, com a mesma vontade de quem é separado de uma forte paixão antiga em um dia de feriado num pequeno vilarejo e que depois de muito, muito tempo, anseia reencontrá-la.
     Inquieto por não reencontrar o local, esbocei um sorriso tímido e silencioso e aceitei a condição que foi a de ter estado ali, tão pertinho daquela palavra que, de desejo, de situação abstrata se transforma em um objeto concreto, enchendo o meu coração de alegria e os meus olhos de espanto. De vez em quando e de quando em vez é bom se espantar! ... Já pensou se tudo fosse previsível e perdêssemos a capacidade de nos espantar??
     Eu vou ficando por aqui. Até a próxima Agenda Poética Marginal e tomara que na próxima eu não tenha que dar tantas explicações!!!


Helemento Qarbono      













Peixes, lamparinas e Jean –Jacques Rousseau
(Análise da capa sob a ótica de um Helemento)
    
     Fiquei extremamente feliz com a construção visual da Agenda Poética Marginal – Rádio Ressurreição, e mais feliz ainda pela concepção da capa, onde atribuí uma linguagem metafórica ao desenho.
     Na imagem da capa, se vê uma pessoa iluminado um espaço, empunhando uma lamparina. Logo abaixo do desenho está escrito o nome da agenda em três situações diferentes, onde a última palavra que compõe a nomeclatura está escrita de cabeça para baixo. Justamente para dar o seu recado e marcar de cara a sua desobediência às normas e expor o seu temperamento de “persona non grata” mostrando o seu D.N.A. atípico.
     Lançando um olhar mais denso, a imagem da capa traz citações a três pessoas que formularam  pensamentos aos quais usei como referência para nortear outras leituras. Esta é a minha maneira de ver, a minha analogia, o meu olhar lançado de forma ampla e detalhista.
     Os pensadores a quem me refiro são Paulo Freire, Tolstoi e Jean-Jacques Rousseau. Paulo Freire é citado pelo pensamento que nos diz que a leitura de mundo precede a leitura da palavra. Fazendo alusão ao conhecimento autodidata.  Transportando essa condição para a capa, associamos o conhecimento com a luz da lamparina, empunhada pelas duas mãos, apresentando assim uma iluminação SUA, um conhecimento SEU. A percepção do mundo e das coisas sob o viés autodidata. As duas mãos segurando a lamparina fazem uma clara alusão à autonomia e ao conhecimento gerado pela não-dependência (educação formal).
      Jean-Jacques Rousseau também é notado nessa leitura, quando nos diz que o homem nasce puro e a sociedade o corrompe. Essa característica é notada pelo uso da lamparina que gera luz, que irradia luz, uma maneira primitiva que se opõe ao urbano (luz elétrica), mas que também cumpre a sua funcionalidade e praticidade. Segundo minha analogia, a luz elétrica (conhecimento gerado pela ciência) pode ser comparada como um símbolo de aculturação, ao passo que a luz da lamparina pode ser vista como um símbolo de resistência cultural.
     Ainda relacionado à Rousseau, a imagem da capa nos apresenta uma pessoa sem vestimenta, nos remetendo assim à ideia de não-domesticação e ausência de elementos morais que a sociedade impõe e estabelece, como o conceito de pudor.
     Sobre ver Tolstoi na capa, refiro-me à sua fala que nos diz que o nosso universo é a nossa aldeia. Essa condição também é vista na capa, personificada pela lamparina, trazendo assim uma referência visual em relação às lembranças da minha infância, da minha pequena aldeia a quem chamo de “Aldeia Primal”, um universo imagético guardado pelas janelas empoeiradas, repleto de imagens como peixes, lamparinas e igrejas. O coração que adorna a lamparina é uma clara referência ao apêgo afetivo às nossas raízes.
       Acho que agora se completa a minha leitura, fazendo com que eu passe o comando dessa nau-à-deriva para o comando de vocês. A alquimia do ver, do sentir e do perceber agora está nas suas mãos, e tem rosto, nome e endereço.
 Obrigado pela companhia!
A gente se vê por aí!


Helemento Qarbono