quinta-feira, 11 de abril de 2013

O sopro da verdade

         

                             
  (Essa é para ler escutando These boots are made for walkin - Nancy Sinatra)

             - Mete o dedo, mete o dedo!!!!! Só se ouvia os gritos:
            - No olho, bem no olho que é pra cegar. E se via os puxões de cabelo, os pontapés com erros de mira.
            - É a mãe! Sua va-ga-bun-daaaaa...
            - Soc!pow!
            Até finalmente se ouvir um estridente Ku klux klan. Não a "facção", mas o som da arma engatilhando e atirando, logo após tudo silencia. Aos poucos as pessoas vão se retirando, e apenas a autora do disparo dá um chute na cara para o grand finale e diz:
            - A mãe não, meter a mãe no meio é sacanagem.
            Não era sobre homem, não era sobre maquiagem, não era sobre moralidade, a discussão começou sobre o poder, a ascensão feminina, o exemplo da Dilma, o sequestro, a ficha suja, as armas. Até onde ia a liberdade feminina e a aprendiz de homicida solta a pérola:
             - As mulheres lutaram tanto pelo poder que agora que conquistaram não sabem onde enfiar.
             - Chauvinista, preciso te dar uma aula sobre a década de 1960. O que as mulheres tiveram de passar pra conseguir dar a opinião ao invés da buceta. Coco Chanel, Nancy Sinatra, Carol Hanisch e tantas outras que deram voz e ousaram em uma época totalmente dominada pelo machismo.
            - Você fala isso mas apanha do marido.
            - Apanho porque eu peço.
            - E depois ainda fala vem falar de independência. Que mulher em sã consciência gosta de apanhar do marido?
            - Aqueles que pedem, oras. E isso nada tem a ver com independência e direitos iguais, tem a ver com sexualidade, escolhas e fetiches. Freud Explica.
            - Porra de Freud, cara mal comido.
            - E o que você entende de psicanálise? Nada, você é uma mentecapta que nasceu com o polegar opositor por acaso.
            E por aí continuou a briga até os confins do diálogo racional, quando a futura defunta abre o berreiro :          
           - E ser corna, tem a ver com liberdade sexual? Porque eu dormi com seu marido, agora vai dizer que não se importa? Que tem um relacionamento aberto e livre de preconceitos? Quero ver até onde seus paradigmas de mulher moderna vai.
             E lá se vão todos os discursos apoiados em anos de estudos estratégicos sobre felicidade, relacionamento, terapia de casal, dissertações e teses. Quando a humanidade vem a tona, abre espaço para toda a ultraviolência latente e tudo o que se vê agora é uma roda  para a briga das duas irmãs no barzinho do Zé Pinguço e só se ouve um único tiro fatal, justo na garganta. Há quem diga que eram inseparáveis, nunca haviam brigado por nada, tomavam até calcinha emprestada, agora não toma mais.
           

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