O documentário “Olhar Estrangeiro” de Lúcia Murat, traz uma percepção acerca de um Brasil retratado pelo cinema mundial. Os diretores que usaram o Brasil como referência, construíram a imagem de um país com todos os clichês possíveis. Venderam um país com idéias surreais. Raciocínio ilógico que pode ser percebido desde os cineastas nacionais até a população que mais desconhece sobre essa arte.
A sensualidade, a diversão plena, o colonialismo, a selvageria entre outros aspectos foram caricaturados em cenas com todas as hipérboles possíveis. As imagens pitorescas das praias de nudismo, as mulheres vulgarizadas, o sexo explícito, animais considerados selvagens vivendo entre as pessoas, são apenas pequenas amostras de como o Brasil foi retratado por esses produtores.
Essas produções afetam diretamente em como nosso país é visualizado lá fora. Segundo a ótica dos próprios atores e demais pessoas que participaram da produção, o Brasil é um país exótico, cheio de mulheres nuas, pessoas que não trabalham, vivem a mercê da diversão, mas ao mesmo tempo são pobres, vivem subordinados ainda a políticas colonialistas, enfim, argumentando um país perfeito para quem quer viver na clandestinidade, fazendo o que bem entender, sem nenhuma conseqüência.
Através das experiências vividas como cineasta, Lúcia Murat pôde observar mais de perto e entender os absurdos abordados nas criações cinematográficas e vai ao diálogo com quem as produziu, conduzindo um debate a respeito da construção desses cenários e dos seus aspectos. O expectador, principal alvo desses filmes, vem assimilando essas idéias e as reproduzindo, sem ter nenhum conhecimento prévio da cultura brasileira e absorvem bem os clichês.
Após as entrevistas com os diretores, fica evidente que na maioria dos casos não haviam tido nenhum contato prévio com a cultura do país e, muito menos se importado caso estivesse exagerando, portanto suas criações também seguiram a idéia do que já estava no mercado. Não há nenhum conhecimento técnico, organizado e definido. A maioria dos cineastas entrevistados para o documentário se surpreenderam com a imagem que venderam, porém outros argumentaram fatidicamente que o Brasil se fazia realmente daqueles clichês.
O olhar estrangeiro não pode ser definido e justificado apenas nesse documentário, que segundo as palavras da própria cineasta não foi feito para conclusões, e sim para abrir um amplo espaço em que possam ser discutidas as interpretações cinematográficas a respeito do Brasil, se é errado ou não, certamente apenas os brasileiros terão essa percepção do que é clichê, pois o olhar de fora sempre traz algum prisma as vezes escondidos por nossos olhares apáticos e cotidianos.
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