domingo, 31 de outubro de 2010


Eu, naquele dia em que me via entre um monte de papeis, com letrinhas miúdas, não menores que as de bula, mas lendo cada linha com o maior esforço, pude perceber o esforço e a tentativa esganiçada de tornar aquilo um aviso, para que eu pudesse me apressar, me decidir , e não mais que dois dias, eu estaria completamente livre, ou presa para sempre, às minhas culpas, mas horrível ainda seria estar enclausurada em minhas ilusões, após escutar durante anos aqueles jargões feministas, eu enfim estava liberta dessa ânsia de "independência feminina", pelas lutas, pelos direitos a igualdade.A mulher que se julga tão moderna não tem coragem de rachar a conta do motel, que acha um absurdo, uma falta de cavalheirismo e bla bla bla.Mas aquelas letrinhas representavam uma alforria, com não mais que 15 palavras digitadas, não sei porque, senti como um aperto no peito, e não era o sutiã, eram aquelas palavras mais profundas que cova de obeso, que decidiria não somente o que escolher, mas minhas atitudes seriam diferentes, decidir se devo partir ou não cabe somente a mim, e a tudo o que me prende a você, a tudo o que vivemos ou por luxo deixamos de viver, ou por mágoa deixamos de falar, ou por medo deixamos de fazer, e nesse fazer-ou-não-fazer é que você decidiu deixar eu me decidir, e as vezes preferia que você o tivesse feito, jamais estaria em minhas mãos e em minha mente as culpas, como diria Raul "é sempre mais achar que a culpa é do outro", e colocar em alguém foi sempre mais fácil que assumir meus erros, e nesses papeis que não ouso chamar de cartas você deixou o fim do jogo, o "game over" comigo, então o que decidi não foi ir embora, nem deixar você partir, mas me abster de responder, agora meu próprio silêncio me agride, qualquer dia desses não se assuste ao me ver batendo em sua porta.

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